O consumo de ecstasy diminui a qualidade da visão, provocando alterações na acuidade e percepção visual dos seus consumidores durante um período de, pelo menos, 24 horas. A utilização daquela droga sintética, segundo uma investigação do Instituto Biomédico de Investigação da Luz e Imagem da Universidade de Coimbra, tem inegáveis efeitos na amplitude da resposta da actividade eléctrica da retina e, principalmente, na actividade dos fotorreceptores.
O que a equipa liderada por Francisco Ambrósio pretendeu apurar foi quais eram os efeitos da utilização do MDMA, a substância de que são compostos os comprimidos de ecstasy, na actividade da retina. Os efeitos daquela droga no sistema nervoso central estão devidamente estudados, mas o mesmo não se pode dizer quanto ao seu impacto na visão. “Ainda ninguém tinha avaliado o efeito do ecstasy na fisiologia da retina, que também é sistema nervoso central”, disse Francisco Ambrósio ao P3, reforçando o carácter inédito desta investigação.
Neste estudo, Francisco Ambrósio, investigador principal daquela universidade e doutorado em Biologia Celular e Neurociências, recorreu à administração por via intraperitoneal de MDMA em ratos, em quantidades elevadas e em alto grau de pureza, de modo a “mimetizar o consumo excessivo” de alguns consumidores. Os animais foram, depois, sujeitos a electrorretinografias para avaliação dos efeitos três horas após a injecção e, novamente, 24 horas depois.
Como o consumo de ecstasy aumenta a temperatura do corpo, foi criado um segundo grupo de animais, a quem não foi administrado MDMA, mas a quem a temperatura foi artificialmente aumentada, com o objectivo de permitir uma comparação mais fiável dos resultados, que acabam de ser publicados na revista científica "PloS One".
O mercado das drogas sintéticas é cada vez mais complexo. Como há um maior controlo das matérias-primas utilizadas na produção do MDMA, os fabricantes estão a recorrer a pré-precursores como o óleo de safrolo (obtido a partir de óleos de várias espécies de plantas da América do Sul e do Sudeste asiático) para sintetizar o MDMA. As sucessivas alterações na forma como o ecstasy é produzido coloca imensas dúvidas quanto aos eventuais efeitos na saúde dos consumidores, sobretudo em situações de policonsumo.
Texto actualizado às 16h00