Novas empresas, ideias inovadoras

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Filipe Casimiro, de 25 anos, e Francisco Duarte,de 27, esperam ter o Waynergy no mercado já este ano Rui Soares

Concursos, cursos e programas são algumas das iniciativas promovidas nos últimos anos pelas universidades. O objectivo é a criação de empresas a partir de ideias novas. Porque há quem não espere por um emprego, mas antes o crie

Empreendedorismo. Inovação. Resiliência. São algumas das palavras-chave para um conjunto de actividades que promovem a formação de empresas a partir de ideias inovadoras. Um futuro menos incerto para todos aqueles que dão agora os primeiros passos no mercado de trabalho, ou retornam a este.

Nos últimos anos, as instituições de ensino superior criaram programas, concursos e cursos com o objectivo de apoiar ideias de negócio direccionadas aos jovens, em particular às mulheres. Resultado? O nascimento de um número significativo de pequenas e médias empresas. Face às poucas expectativas de emprego por parte dos jovens, as universidades e politécnicos começaram a apostar no empreendedorismo com o objectivo de dar algumas soluções aos seus alunos - os politécnicos criaram o projecto Poliempreende, em 2003. Mas não só, houve também a preocupação de chegar aos professores, funcionários e ex-alunos.

De repente, a pergunta "O que queres ser quando fores grande?" deixou de fazer tanto sentido. Certamente que em criança a resposta dos participantes destas iniciativas não foi "empreendedor". Contudo, hoje mostram-se satisfeitos com a sua opção, bem mais estável do que muitas profissões tradicionais, confessam.

Com a crise na ordem do dia e a previsão da taxa de desemprego a atingir os 11 por centro em 2012, a entrada na vida activa é hoje um processo complicado para a maior parte dos jovens diplomados. E é também cada vez mais uma preocupação do ensino superior, que é a última plataforma entre os estudantes e o mercado de trabalho.

Com estas iniciativas, a criação de empresas tem aumentado, assim como os investimentos nas economias locais. Tem havido criação de postos de trabalho, tem sido criada mais competitividade empresarial e tem sido feita uma promoção internacional da marca "Portugal", assim como de métodos e técnicas inovadoras, dizem as escolas e os actuais empresários.

Mas "não chega ter espírito empreendedor", alerta José Paulo Rainho, coordenador da Unidade de Transferência de Tecnologia da Universidade de Aveiro. "É também necessário adquirir as competências essenciais para que os potenciais projectos possam ser materializados." É preciso pensar, moldar, criar novos negócios, transformar conhecimento em serviços, em resumo, fazer jus ao conceito de "empreendedorismo".

Filipe e Francisco criaram energia alternativa

Já tinham alguns projectos comuns na área das energias renováveis, mas nunca tinham ousado formar uma empresa. Até ao dia em que Filipe Casimiro e Francisco Duarte terminaram o mestrado em Engenharia Electromecânica e resolveram arriscar. Os jovens de 25 e 27 anos, respectivamente, juntaram esforços e concorreram ao WinUBI 2010, um concurso de empreendedorismo desenvolvido pela Universidade da Beira Interior (UBI). Concorrerem com o Waynergy e conquistaram o primeiro lugar. O Waynergy é um sistema que capta energia cinética de pessoas e veículos - energia associada ao movimento -, transformando-a em energia eléctrica. A ideia é "inovadora e diferente" por permitir gerar "mais por menos", ou seja, mais energia por menos custos, explica Filipe Casimiro.

Com os três mil euros do prémio, desenvolveram um protótipo, com a UBI e o seu gabinete de apoio a projectos de investigação, que actuaram como incubadoras. Mas a empresa dos dois jovens não cessou esforços. Em 2010, concorreu ao Prémio Inovação EDP Richard Branson, venceu e ganhou mais 50 mil euros.

Comprovado o sucesso da ideia com os prémios conquistados, Filipe e Francisco abriram a Waydip, a empresa onde desenvolvem, entre os vários trabalhos, o projecto Waynergy, que prevêem estar a ser comercializado ainda este ano.

Segundo Filipe Casimiro, a participação no WinUBI foi fulcral para a criação da empresa: "Como estamos ligados mais às Engenharias, desligamo-nos da gestão e marketing, mas com esta participação aprendemos a dar-lhes valor." Da participação no programa, Filipe aponta também as dificuldades: "A elaboração do plano de negócios foi o mais difícil. Por não termos preparação, tivemos de o reformular várias vezes, até chegar ao ponto pretendido."

Desde então têm entrado como concorrentes noutros certames. Participaram no concurso MIT-Portugal e venceram na categoria das Energias, recebendo um prémio de 100 mil euros. Graças ao prestígio destes programas, em especial do MIT e da EDP, o par de empresários tem reunido uma extensa rede de contactos, tanto nacionais como internacionais, que lhes deu maior credibilidade e visibilidade.

Filipe Casimiro explica que foi gratificante perceber as reacções que o projecto provocou: "Não imaginávamos que tivesse tanto impacto e de forma tão rápida. Sem as reacções não saberíamos a potencialidade da nossa empresa."

Ainda no mês passado a Waydip foi reconhecida pela Kauffman Foundation como uma das 50 start-ups - novas empresas criadas em ambiente universitário - mais promissoras a nível mundial. "E no dia 30 de Novembro, ficámos em terceiro lugar num concurso europeu, o EEP Awards", acrescenta Filipe Casimiro.

"Todo o financiamento que temos é proveniente da participação nestes concursos, apesar de já termos sido contactados por vários business angels [investidores individuais em capitais de risco]", afirma com orgulho o co-fundador, referindo também que a Waydip continua à procura de investimento.

Tudo começou na universidade. Por isso, Filipe considera que as iniciativas de empreendedorismo são uma forma de "valorizar ideias", dando força a todos os que querem criar um negócio inovador em resposta às dificuldades vividas no actual contexto de crise.

Carla e o empreendedorismo no feminino

Que contributo pode dar a informação geográfica à justiça? Foi a partir desta pergunta que Carla Freitas, de 33 anos, geógrafa, começou a pensar num projecto. A ideia surgiu "de conversas com familiares e amigos da área do Direito". Com a percepção de que "a informação geográfica junta aos processos [judiciais] não tinha tratamento técnico, era desactualizada, desenquadrada e frequentemente desacreditada", percebeu que tinha ali uma oportunidade de negócio. Depois de explorar o tema na tese de mestrado, arriscou concorrer sozinha ao IdeiaLab, um programa da Universidade do Minho (UM), desenvolvido pela TecMinho.

A princípio, sentiu dificuldades na elaboração do plano de negócios e nas primeiras apresentações da ideia ao júri - tinha dificuldade em explicar em minutos uma ideia tão inovadora, refere. Mas conseguiu superar todos os obstáculos.

Mais tarde, resolveu participar no SpinUM, um concurso da UM, e chegou à final. "Decidi participar, pois achava que a ideia tinha potencial de crescimento e podia contribuir para uma nova abordagem ao nível da peritagem e assessoria, em Portugal". Carla ganhou o segundo prémio de Melhor Ideia de Negócio e o prémio de Empreendedorismo Feminino, em 2010.

Este concurso foi fulcral para concretizar a ideia. A atribuição do estatuto de spin-off (empresa que nasce a partir de um grupo de pesquisa) da UM "fez com que a investigação desenvolvida pela empresa adquirisse um maior grau de solidez".

A obtenção dos prémios foi determinante para criar a empresa - como vencedora recebeu alojamento durante nove meses, ajuda para estabelecer uma rede de contactos, serviços de consultoria e mil euros. Carla recusou um dos apoios financeiros disponibilizados (2500 euros de capital de risco) porque queria manter a independência da empresa.

Criada a Geojustiça, aderiram ao projecto outros ex-alunos da UM. Paulo Pereira e Domingos Silva, ambos de 33 anos, tornaram-se sócios de Carla e, assim, hoje são três, todos geógrafos. No futuro, a Geojustiça quer continuar a crescer e internacionalizar-se: uma das perspectivas são os países de língua oficial portuguesa.

Miguel, André e Carlos apostaram na poupança

Há um ano, Miguel Carvalho, André Pina e Carlos Silva começaram a pensar se seria possível desenvolver uma tecnologia que ajudasse os portugueses a poupar na factura da electricidade. Foi essa ideia que os levou à final do concurso inserido no programa MIT-Portugal em parceria com o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE-IUL). A ideia Watt-IS mereceu uma menção honrosa no programa de apoio à consolidação de novas empresas tecnológicas nacionais, o ISCTE IUL MIT Portugal Venture Competition, criado em Novembro de 2009.

O que levou os três colegas a fazê-lo? Perceberam que precisavam de orientação e apoio para estabelecer contactos e tornar a ideia tangível, recorda Miguel Carvalho, de 31 anos, que, foi director executivo do MIT-Portugal.

O programa ISCTE/MIT-Portugal foi fulcral para o desenvolvimento da empresa, defende: "Esta participação fez com que melhorássemos o nosso modelo de negócio inicial para um modelo óptimo, passível de ser apresentado às grandes empresas, que nos podiam financiar."

A menção honrosa na área de sistemas sustentáveis de energia "permitiu-nos participar no IdeaStream, um programa organizado pelo MIT, para apresentar a nossa empresa", explica Miguel Carvalho. E possibilitou ainda desenvolver alguns projectos-piloto com a ISA, uma empresa de telemetria, que começou em 1990 como spin-off da Universidade de Coimbra. No entanto, a equipa também deparou com "algumas dificuldades, como o respeito pelos prazos exigidos e o grande volume de trabalho, que obrigou a uma maior concentração e esforço".

A Watt-IS propõe uma tecnologia inovadora que consegue perceber quando e como os electrodomésticos são usados, permitindo ao utilizador fazer um uso mais racional da energia. O sucesso da ideia passa por "este tipo de negócios fazerem cada vez mais sentido, uma vez que é essencial para as famílias reduzirem os gastos", aponta o director executivo. André Pina, de 27 anos, é director técnico e Carlos Silva, de 35 anos, é director científico da Watt-IS.

O panorama de crise e falta de emprego leva a que a criação de negócios alternativos seja uma aposta viável, defende Miguel Carvalho, para quem este tipo de acções tem vários resultados positivos: "Uma maior preparação para os nossos jovens, um maior desenvolvimento de produtos que possam contribuir para o crescimento da economia portuguesa, a internacionalização da nossa marca "Portugal"."

A empresa espera no próximo ano ter uma solução comercial para apresentar a potenciais financiadores e expandir-se para outros mercados.

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