Criámos mais de 50 videojogos em apenas dois anos
Apesar do “boom notável” dos últimos dois anos, a produção de videojogos em Portugal é ainda “residual e carece de investimento"
Portugal criou mais de 50 videojogos em 2010 e 2011, o que equivale a 40 por cento do valor total dos últimos 25 anos, mas a produção nacional ainda é “residual”, adiantou um especialista do sector.
Segundo Nelson Zagalo, presidente da Sociedade Portuguesa de Ciências dos Videojogos (SPCV) e professor da Universidade do Minho (UM), apesar do “boom notável” dos últimos dois anos, a produção de videojogos em Portugal é ainda “residual e carece de investimento, formação, centros de investigação e visibilidade”.
Nelson Zagalo vai lançar, na Primavera, o livro “História dos Videojogos em Portugal”, para afirmar o potencial desta indústria, juntar os intervenientes e “mostrar que é possível ir mais além”.
Transformação da indústria dos jogos
Segundo aquele especialista, o “boom” dos dois últimos anos deve-se à transformação daquela indústria, “que passa a permitir o acesso de microempresas às plataformas de produção e distribuição”. Tornou-se, assim, mais simples obter o "kit" de fazer jogos para X-Box, Sony e Nintendo ou aceder às plataformas Apple, Android, Windows Phone, Flash, Downloadable.
Exemplo recente da produção nacional foi o “Magic Defenders”, criado por dois alunos da UM e premiado e usado como imagem de uma tecnológica americana. Zagalo sublinha que várias empresas lusas têm despontado no sector, como Biodroid, RTS e a Seed Studios, que acaba de lançar a estratégia “Under Siege” (custou 1,4 milhões de euros) directamente para o Top 10 dos jogos indie mais vendidos da Playstation 3.
Ainda de acordo com Nelson Zagalo, nas quase três décadas desta indústria nacional foram criados, sobretudo, títulos de curta duração e resolução de problemas (puzzle, estratégia).
Casos de sucesso
“O país esteve na dianteira internacional em três instantes. Em 1984, os adolescentes algarvios Paulo Carrasco e Rui Tito venderam Mr. Gulp, Megatron e MoonDefenders à inglesa WizardSoftware, seguindo-se Alien Evolution, que rendeu 20 mil libras. Em 2002 a Ydreams publicou “Rock Star” para mobile, seguindo-se “Spooks” (para a BBC) ou “Cristiano Ronaldo Underworld”. Em 2008 a RTS lançou “Farmer Jane” directamente para o Top 10 mundial de jogos online”, disse ainda.
O presidente da SPCV diz que o país “ainda vê esta área de soslaio, ligada ao entretenimento, sem utilidade imediata e de rentabilidade duvidosa”. “Mais importante: falta massa crítica para criar sistematicamente um grande jogo nas suas diversas dimensões. Este é um patamar diferente do calçado ou dos têxteis, esta força de trabalho precisa de ser fortemente educada, estamos muito atrasados, mesmo face a países da nossa dimensão, como Hungria e Noruega”, realça.
Portugal tem três cursos superiores de Jogos Digitais (Barcelos, Bragança, Lusófona) e vários cursos com cadeiras alusivas, como o mestrado em Media Interactivos na UM, dirigido por Nelson Zagalo. “Há um receio geral de abrir mais cursos por faltar indústria, mas assim esta também não é fomentada”, alerta.