Por esta altura, Cláudia Estanislau está a viver os primeiros dias como emigrante em Angola. Aterrou no aeroporto de Luanda pelas 21 horas de quinta-feira da semana passada. Objectivos: estabilizar a vida financeiramente para poder regressar a Portugal depois.
A poucas horas da partida, a jovem de São João da Madeira falou com o P3. Sem rodeios: “Vou por razões financeiras, minhas e do meu namorado”, conta. Cláudia é tratadora de cães – trabalhadora por conta própria, portanto – e “o que trabalhava não garantia um ordenado fixo no final do mês”.
A hipótese de Angola nunca esteve em cima da mesa, ainda que a nacionalidade inscrita no BI pudesse sugeri-lo. Os pais, angolanos, fugiram para Portugal quando a guerra civil estourou, em 1975. Não voltaram a África. Os tios sim: estão lá há dez anos.
Foram eles que lhe falaram pela primeira vez em Angola. Diziam-lhe que era um bom destino para “mudar de vida”. “Eles ouviam as minhas queixas, de ausência de perspectivas profissionais em Portugal, e achavam que Angola podia ser uma solução”.
Portugal deu o "pontapé final"
Cláudia Estanislau não levava a proposta muito a sério: “Queria ir a Angola a viagem, mas emigrar...”. Foi em conversa com os primos, da mesma idade, que a ideia começou a ganhar forma. Mas foi Portugal – a situação financeira do país – que lhe deu o “pontapé final”.
“Os sacrifícios que me pedem já ultrapassaram o que posso dar”, lamenta Cláudia. Apesar de se dizer triste com a situação nacional, parte com vontade de regressar: “O meu objectivo é ir para estabilizar a minha vida financeiramente, mas penso num projecto a cinco anos. Ou menos, se a situação do país melhorar entretanto”.
Chegou a Angola um pouco “à aventura” – sem contrato de trabalho. Conta com a ajuda familiar (“Não sei se iria se não existisse o ‘background’”) e acredita na opinião do tio: “Diz-me que uma pessoa com o meu perfil, que fala línguas, arranja emprego facilmente”. E o namorado, técnico informático, também não deve ter grandes problemas. Palavra do tio, que tem uma empresa do sector.
Cláudia foi construindo uma espécie de manual de sobrevivência em Angola a partir de conversas com a família que lá vive. Assuntos em cima da mesa: trânsito e insegurança. O primeiro, assume, leva desde já o carimbo de dor de cabeça, o outro prefere relativizar. “Tenho noção de que é muito diferente de São João da Madeira, mas é uma questão de adaptação. É preciso estar mais atenta e ter mais cuidado”, acredita.
As primeiras horas – e os primeiros meses, provavelmente – serão passadas em casa dos tios, o que torna a questão do arrendamento menos problemática. Depois, espera que o contrato de trabalho assegure essa questão. São palavras de uma nova "emigrante", consciente do local onde chegou: “Um país que está a ser reconstruído e que proporciona um estilo de vida concordante com isso”.