Duas portas abaixo da antiga morada, o mais antigo clube de jazz da Europa regressa à actividade num espaço remodelado onde se ultimam os preparativos para a reabertura, marcada para quarta-feira.
O espaço é ligeiramente maior do que a antiga cave do clube - que ficou destruída num incêndio a 22 de Dezembro de 2009 - e quem for à reabertura não espere encontrar uma réplica do antigo Hot Clube.
“O objectivo foi dar um passo em frente na história do clube, pensando sempre que tem características únicas que é preciso salvaguardar. Tentámos fazer algumas pontes, mesmo em termos de desenho do próprio espaço, que fizessem a ligação ao antigo clube”, disse à Lusa a presidente do conselho directivo do HCP, Inês Homem Cunha.
No novo Hot Clube não será preciso descer umas escadas para assistir a um concerto, a orientação do palco será diferente, há camarins para os artistas, uma sala para exposições e um pátio arborizado com esplanada e espaço para acolher concertos.
O Hot Clube de Portugal, fundado por Luís Villas-Boas em 1948, ficou totalmente destruído em 2009 num incêndio no topo do edifício. Actualmente apenas resiste a fachada do prédio.
Com a destruição da cave onde funcionava o clube, no número 39, algum espólio ficou danificado e foi necessário cancelar toda a programação.
Nestes dois anos, a direcção do Hot Clube conseguiu arranjar um novo espaço na mesma praça, através de um protocolo assinado com a Câmara de Lisboa, que financiou as obras de recuperação com cerca de 200 mil euros.
Para Inês Homem Cunha, esta é uma nova vida para o Hot Clube de Portugal e, mesmo que a cave não seja a mesma, “o que faz o espaço são as pessoas. O que é importante é que as pessoas voltem a sentir que o espaço é delas e que o Hot Clube está vivo”.
A reabertura será celebrada com três dias de concertos, todos de entrada gratuita, só com formações do Hot Clube de Portugal.
As honras serão feitas com a histórica formação do Quarteto do Hot Clube, que integrou, nos anos 1960, Justiniano Canelhas, Bernardo Moreira, Manuel Jorge Veloso e o saxofonista-barítono belga Jean-Pierre Gebler, já falecido.
Estão previstas ainda actuações do Septeto e da Big Band do Hot Clube de Portugal, assim como ‘jam sessions’ com alunos da escola do clube.
Depois destes três dias de concertos, o HCP deverá iniciar em Janeiro a programação regular.
“Gostávamos de ter capacidade financeira para ter mais programação estrangeira. Vamos ter que ver como corre, mas o espírito vai ser o mesmo”, disse.
Para Inês Homem Cunha, a primeira mulher a dirigir o HCP, a reabertura de portas significa “um grande alívio”: “Era uma missão a que eu me tinha esforçado que acontecesse. É uma sensação de missão cumprida conseguir isto em dois anos”.
Fundado em 1948, o Hot Clube de Portugal acolheu grandes nomes do jazz, como Count Basie, Dexter Gordon, Trummy Young, os músicos da orquestra de Quincy Jones, Herb Heller, Pat Metheny ou Sarah Vaughn e foi o palco privilegiado para muitos nomes do panorama português, de Mário Laginha a Carlos Barreto, de Zé Eduardo a Barros Veloso, de Maria João a Maria Viana.