Melancolia

Von Trier, “women''s director”, parece continuar sob o feitiço de um velho filme dinamarquês, o “Haxan” de Benjamin Christensen, que entre a “feitiçaria” e a psicanálise, e fingindo-se “pedagógico”, só falava da má tolerância (da religião e da sociedade em geral) para as manifestações de liberdade do desejo sexual feminino. Em “Melancolia”, os planos do “banho de lua” (ou enfim, porque não é a lua mas um planeta) de Kirsten Dunst, de caras o momento mais surpreendente do filme, indicam-no com bastante força. Fora fogachos como este, contudo, “Melancolia” (que nada tem de esteticamente repulsivo como “Anticristo”) continua a carecer de uma mão à altura da amplitude do gesto: a primeira parte, no casamento, é pobre, em estilo “reportagem” (câmara à mão) sem vigor nenhum (maldade: comparar com o casamento do “Caçador” de Cimino, também longa abertura de um filme); e a segunda, incapaz de resolver se espera pelo fim do mundo como “metáfora” ou como “facto”, arrasta as personagens (também elas perdidas entre a “composição” e a simples “silhueta”) num corrupio esvaído de qualquer angústia, ou... melancolia, especial. Nada de repulsivo, apenas de muito enfadonho.

Sugerir correcção
Comentar