A estreia na longa-metragem de Paulo Rebelo, colaborador de João Pedro Rodrigues em “Odete” e “O Fantasma”, é um bom exemplo de um filme que sabe usar as mais-valias que tem para ultrapassar as suas fraquezas - no caso, um trio central de actores de luxo absoluto e uma encenação escorreita e cumpridora, mesmo que pouco inspirada.
A cabeleireira suburbana, viúva solitária, e uma jovem fugitiva rebelde que esconde do mundo um segredo (às quais se vêm juntar um surfista filho de pais bem na vida e um pescador bruto como as casas mas de bom coração) são personagens de linha de montagem de telenovela envolvidas numa trama melodramática algo previsível que, no limite, poderia tombar no dramalhão televisivo. Maria João Luís (a cabeleireira), Rita Martins (a fugitiva) e Nuno Lopes (o pescador) dão brilhantemente corpo e vida a estes arquétipos, com uma entrega e uma generosidade que, bem aproveitadas pelo realizador, emprestam energia a interesse a um filme pontualmente confuso e demasiadamente genérico. “Efeitos Secundários” é, aliás, bastante melhor no seu intrigante “primeiro acto”, onde Rebelo gere habilmente o mistério sobre o que reúne estas duas mulheres tão diferentes, após o que derrapa sem apelo nem agravo para a convenção do filme-problema que se resolve numa cena tão comovente quanto manipuladora, usando um gato como metáfora da questão central.
Mais inexplicável é o porquê deste filme estar na prateleira desde que foi completado em 2009, exibido apenas em alguns festivais para surgir agora numa estreia “de autor” quase confidencial - destino que, apesar das suas evidentes fragilidades (que não são apenas de primeiro filme) e devido ao capital de simpatia que gera, “Efeitos Secundários” não merecia.