Nascer com menos de 300 gramas e sobreviver

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Em Portugal, todos os anos há quase dez mil prematuros Público/ Arquivo

Madeline Mann nasceu em 1989 no Centro Médico da Universidade de Loyola, nos Estados Unidos, com 26 semanas de gestação e pesava apenas 280 gramas. Na altura, tornou-se no bebé mais pequeno do mundo a sobreviver a um nascimento prematuro. Um recorde inscrito no livro do Guinness e que foi suplantado em 2004, quando na mesma instituição nasceu uma outra menina, Rumaisa Rahmam, com 260 gramas e 25 semanas de gestação. O recorde em questão é de peso e não de semanas de gestação.

Em ambos os casos na origem do parto prematuro esteve a pré-eclampsia das mães – uma patologia comum na gravidez e que se traduz em hipertensão, sendo que a tensão arterial elevada pode comprometer o desenvolvimento do bebé e impedir que a gestação seja levada até ao fim.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, nascem anualmente no mundo 13 milhões de prematuros. Em Portugal, todos os anos há quase dez mil prematuros (bebés que nascem com menos de 37 semanas de gestação), o que corresponde a cerca de 10% dos nascimentos. O número tem estado a aumentar com a maternidade tardia e com os tratamentos de fertilidade. Em Portugal, 40% dos bebés que nascem com 24 semanas de gestação sobrevivem. Há 30 anos, a taxa de partos prematuros era de 5%. Hoje, a percentagem é muito superior, mas o Plano Nacional de Saúde previa reduzir os nascimentos prematuros para 4,9% em 2010 – um objectivo que continua por atingir.

A história das duas prematuras, que tiveram um desenvolvimento normal e sem sequelas significativas, acaba de ser publicada na revista científica Pediatrics, da Academia Americana de Pediatria. De acordo com o artigo, Rumaisa continua a ser o bebé mais pequeno do mundo a sobreviver e Madeline ocupa o quarto lugar no pódio. Os dados são registados pelo Hospital Infantil da Universidade de Iowa.

Jonathan Muraskas, coordenador do estudo, e os seus colegas são, no entanto, cautelosos e alertam que casos bem-sucedidos como estes não são comuns. E adiantam que na maioria dos nascimentos muito prematuros o mais comum é que os bebés não sobrevivam ou que fiquem com problemas de desenvolvimento muito graves, como paralisia cerebral, atraso mental ou cegueira. “Madeline e Rumaisa podem propagar falsas expectativas para as famílias, profissionais de saúde e comunidade médico-legal”, diz Muraskas no estudo.

O trabalho salienta também que regra geral as meninas prematuras tendem a ter um melhor prognóstico que os meninos. Madeline e Rumaisa tinham também um desenvolvimento relativamente avançado para o tempo de gestação que apresentavam. Além disso, as mães receberam esteróides antes do nascimento, o que ajuda a desenvolver os pulmões e o cérebro dos bebés mais rápido.

Madeline acabou por estar 122 dias internada nos cuidados intensivos de neonatologia do hospital de Loyola e Rumaisa 142 dias. De acordo com o trabalho de Jonathan Muraskas tanto Rumaisa, de sete anos, como Madeline, de 22, têm um desempenho muito bom na escola e um desenvolvimento normal. Apenas são mais pequenas do que o que é comum nas suas idades e continuam a ter pouco peso.

Notícia actualizada às 11h40, para especificar que o recorde é de peso e não de semanas de gestação
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