Mais 175 barcos de pesca poderão receber aparelhos de localização até ao final do ano

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Os pescadores juntaram-se a José Festas, num apelo por maior atenção à segurança neste sector NFACTOS/LUíS EFIGéNIO

Depois do naufrágio da semana passada, o mestre do Virgem do Sameiro aconselha a substituição de balsas antigas por outras mais resistentes, como aquela em que foi salvo

A Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar (APMSHM) espera colocar, até ao final deste ano, equipamentos de localização, os designados rádio-baliza, em mais 175 embarcações. A associação tem verbas disponíveis do programa Segurança é Viver - apoiado por fundos europeus do Promar - e espera apenas que lhe seja dada luz verde para alterar uma das suas rubricas, destinando parte do dinheiro, uns 140 mil euros, para a aquição destes equipamentos.

O anúncio foi feito ontem pelo líder daquela associação, José Festas, durante uma conferência de imprensa, na Póvoa de Varzim, com o mestre e quatro dos cinco pescadores do Virgem do Sameiro, que na sexta-feira passada foram resgatados numa balsa, à deriva, depois de quase 60 horas no mar, após o naufrágio da embarcação.

Equipadas com sistemas de localização (GPS) de última geração, as rádio-balizas (EPIRBS, na sigla inglesa) só são obrigatórias em barcos com mais de 15 metros, mas José Festas considera que as embarcações mais pequenas têm que "ter este equipamento que as localize em poucas horas". Se o Virgem do Sameiro tivesse este aparelho, "estes homens não teriam estado tanto tempo perdidos em alto mar em risco de vida", assegurou José Festas.

O mestre José Manuel Coentrão, que viu o seu barco afundar-se ao largo da Figueira da Foz, concordou que "todas as embarcações têm que ter rádio-balizas com GPS". Este equipamento custa cerca de 800 euros, mas como não é obrigatório "ninguém o adquire, porque quem anda no mar pensa sempre que estas situações só acontecem aos outros", assumiu o pescador, que explicou um pouco mais à imprensa como passou momentos aflitivos e, nas últimas horas, chegou a perder a esperança de ser encontrado com vida (ver texto no P2).

O Virgem do Sameiro não tinha a EPIRBS, mas a balsa, adquirida há menos de um mês, tinha sido colocada nesta e noutras embarcações ao abrigo do mesmo programa gizado em 2009 pela Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar. Entidade criada a partir do naufrágio de outra embarcação de Caxinas, o Luz do Sameiro, este com um desfecho trágico. Em Dezembro de 2006, a poucos metros da praia da Nazaré, seis pescadores morreram, perante a inoperância do dispositivo de socorro.

Desde então, a APSHM cresceu em associados. Tem mais de 550 embarcações, distribuídas por vários portos do país. E apesar de não ter conseguido alavancar, entre fundos nacionais e europeis, os oito milhões de euros previstos inicialmente no programa Segurança é Viver, pôs na agenda, mesmo entre a própria classe piscatória, as questões da segurança. Sejam elas os fatos de trabalho flutuantes que substituam os tradicionais coletes salva-vidas (com os quais poucos trabalham); os aparelhos de sinalização - e o Governo prometeu tentar alargar a comparticipação destes a barcos com menos de 15 metros - ou as balsas.

Sobre estas, José Manuel Coentrão elogiou as características daquela que foi a sua "casa" flutuante durante dois dias e meio, e defendeu que todas as balsas com mais de 12 anos sejam substituídas por novas, porque as antigas não resistem a tanto tempo no mar, argumentou. Com Lusa

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