A ansiedade deste Papa não anda longe da do alter-ego de Nanni Moretti em filmes como “Palombella Rossa”, por exemplo. Mas agora é um homem mais velho e muito mais desesperado, e claro, com uma responsabilidade maior. O que Moretti filma é este pânico, “existencial”, o medo da vida e o medo da morte, a dúvida de um homem velho sobre se, algures, não terá trocado as prioridades (a cena na pastelaria, o prazer simples dos bolos acabados de sair do forno). E que se abeire deste abismo com semelhante equilíbrio entre a gentileza (no olhar sobre tudo e todos, do Vaticano aos cardeais) e a brutalidade (o berro de Piccoli quando o esperam na varanda) é o mais notável cometimento de “Habemus Papam!”, filme sobre uma humanidade que insiste em não ser obliterada pelo estatuto e pelos símbolos. No fim, ganha a humanidade, seca, respeitosa e orgulhosamente: “Habemus Papam!”, grande filme do “não”. ?
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