Ribeiro Telles condena exploração do solo sem desenvolvimento do mundo rural

Ribeiro Telles falava no final de uma conferência em sua homenagem que decorreu durante todo o dia na Fundação Gulbenkian, Lisboa.

“É necessária a recuperação do mundo rural e da sua dignidade e a sua modernidade. Mas não é o que se está a fazer: está-se a fazer uma exploração da terra sem o mundo rural, sem a ocupação do território, apenas com a exploração do solo. Isso é grave”, alertou o arquitecto paisagista e agrónomo.

Perante o auditório, completamente lotado e com muitas pessoas a assistir de pé, Ribeiro Telles comprometeu-se a lutar pela dignificação do mundo rural.

“Temos de resolver o problema da dignificação do mundo rural, só se faz com agricultura de sustentabilidade local e regional, que necessita das aldeias”, sustentou depois, em declarações aos jornalistas.

O especialista traçou um quadro muito negativo da realidade actual: “As aldeias fecharam, os rebanhos estão a acabar, que as cabras já não vão para a serra, não há circulação local e regional, porque não se pode andar, e o mundo rural é qualquer coisa que é para desaparecer”, disse, criticando ainda “o avançar de uma floresta idiota de eucaliptos”. O futuro, acrescentou, é a reduzida fertilidade do território.

Para Ribeiro Telles, “falta ter uma política de conhecimento do que é a nossa ruralidade e a nossa paisagem rural”, uma realidade do actual Governo mas também dos anteriores. Sobre o Executivo de Pedro Passos Coelho, o arquitecto diz que “não tem a necessária oportunidade que é preciso”.

A solução não passa, no seu entender, pelas políticas de Bruxelas.

“Temos de fazer a nossa política: evitar a importação cada vez mais cara da alimentação essencial, evitar a ocupação das boas terras de barros pelos eucaliptos e por urbanizações, salvar todo o sistema costeiro de agricultura, tanto no Algarve como no litoral”, defendeu.

No encerramento da cerimónia esteve presente o antigo Presidente da República Mário Soares, que elogiou “a pessoa extraordinária que é” Ribeiro Telles.

O ex-Presidente recordou como conheceu o arquitecto, na oposição à ditadura, e descreveu como as divergências políticas não impediram uma empatia imediata.

“Ele é um monárquico e eu sou um republicano dos sete costados. Apesar disso, a nossa empatia foi imediata. Ele sabia que eu era de uma família republicana e achava natural que eu fosse republicano, e ele era nascido de uma família monárquica, eu também achava perfeitamente normal que ele fosse monárquico”, disse Soares.

Ribeiro Telles “é um homem que sabe o que quer, tem uma visão para Portugal, que afirmou e fez com que se tornasse contagiosa para todos”, acrescentou.

Mário Soares lembrou que, logo na altura do I governo provisório, a que ambos pertenceram, Ribeiro Telles “levantou logo o problema do ambiente”, e, “em todos os cargos que exerceu, levou a água ao seu moinho, com grande dificuldade”, permitindo que se tenha “tornado evidente para todos aquilo que ele dizia que era preciso fazer”.