Mais vale a elegância que o saber?

Como seria a reunião da administração de uma empresa na qual a elegância e o fino recorte do discurso fossem mais importantes do que o domínio das matérias em debate?

Jorge Miguel Gonçalves/nFactos/Arquivo
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Mandaram-me um vídeo em que um economista, que temporariamente é deputado (assim deveria ser num país de primeiro mundo), está aparentemente a tentar ensinar o significado de "crowding out" ao governador do Banco de Portugal numa reunião de uma comissão parlamentar. O governador exaspera-se com a total falta de compreensão do conceito por parte do seu colega economista e manda-o aprendê-lo. O economista não diz que o governador do Banco de Portugal está enganado, mas mostra-se ofendido por este ter sido deselegante com ele. E eu, a 9600 quilómetros de distância, a lamentar a que o país chegou.

Ser elegante sobre um assunto é mais importante, nas palavras do economista temporariamente a exercer o cargo de deputado, do que saber sobre o assunto. Um mundo de fantasia que cada vez diz menos a quem está de fora, o que é perigoso, muito perigoso.

Hoje, ao ver a atitude do jovem economista temporariamente colocado a deputado pus-me a pensar como seria uma reunião de um conselho de administração de uma empresa em que a elegância e o fino recorte do discurso fossem mais importantes do que o domínio factual das matérias em debate ou a importância de se conhecer as diferentes nuances de um assunto com 20 ou 30 variáveis.

Eu a dizer ao CEO que os TBA's se apresentam negativos, mas que temos de racionalizar a nossa decisão sobre prosseguir com a JV, mais em função dos OC's do último trimestre do que em CR's, dado que as PTR's não incluem os ganhos elementares de uma coordenação tripartida e lá no canto alguém diz, armado da confiança que a ignorância dá: “Porque é que os ganhos elementares não estão nas PTR's para fazermos uma comparação global com os OC's?”.

E eu, em vez de perguntar a essa pessoa se ela faz alguma ideia do que está a falar e lhe pedisse para estar calada pelo tempo restante que a reunião durasse, teria de ficar uns segundos a calcular a resposta adequada, educada e não ofensiva, para que o ego daquela alma não saísse amachucado da sala. E essa pessoa não teria receio de interromper uma, e outra, e outra, e outra vez mais ainda o meu discurso ou o de qualquer outra pessoa, porque esperaria que eu tivesse todo o cuidado em não chamar a atenção para a sua ignorância. Aliás, toda a sala poderia acabar cheia de pessoas ignorantes sobre o assunto, mas extremamente elegantes a discuti-lo amenamente.

Seria um mundo muito curioso, e essas empresas seriam certamente tão bem sucedidas como Portugal está a ser com o contributo dos seus brilhantes economistas, mesmo que temporariamente roubados às lides financeiras pelo muito dignificante papel de deputado.

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