Cerca de 80% dos doentes toxicodependentes tem problemas psiquiátricos

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“A adictologia é um problema de saúde mental e isto tem de ser assumido”, defende o psiquiatra Luís Patrício Nelson Garrido

“A adictologia é um problema de saúde mental e isto tem de ser assumido”, disse à agência Lusa o médico, à margem da conferência “Global Addiction 2011”, que decorre até quarta-feira em Lisboa e reúne mais de 450 peritos oriundos de todo o mundo.

Segundo Luís Patrício, cerca de 80 por cento dos doentes que estão em tratamento têm patologia psiquiátrica associada, nomeadamente perturbações de ansiedade, de humor, perturbações da percepção da realidade ou de personalidade.

Esta situação existe uma resposta mais diferenciada, “feita porque quem a tem”, disse o director do Centro de Atendimento a Toxicodependentes (CAT) das Taipas, defendendo que os médicos de família terão que aumentar a capacidade de resposta nesta área.

“Temos de trabalhar com os centros de saúde e os hospitais porque o doente que tem problemas de adição não escolhe nem classes, nem idade. Hoje temos meninos de 12 anos a consumir drogas legais e ilegais, como a cocaína”, sustentou.

“Aquilo que proponho para o meu país é o aumento da qualidade do trabalho prestado, porque um problema de saúde mental exige qualidade e é altura da saúde mental assumir esta responsabilidade”, disse, rematando: “Não basta apenas desintoxicar, isso já passou”.

Questionado pela Lusa sobre a extinção do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), Luís Patrício adiantou que não é necessário haver um serviço especializado desde que os serviços gerais continuem a funcionar com competência.

“Há recursos que podem ser utilizados em comum mas é necessário reforçar as competências, investir nos centros de saúde e envolver os médicos de família”, sublinhou o psiquiatra, um dos pioneiros do tratamento da toxicodependência em Portugal.

Luís Patrício lamentou, por outro lado, que Portugal ainda não tenha a especialidade de adictologia e defendeu que é “exigir” aos profissionais de saúde “o aumento de competência” nesta matéria.

“Não deve haver sobreposição, nem usurpação de funções. Muitas pessoas ainda pensam que qualquer um pode receitar, mas não é verdade. Quem pode receitar é o médico e tem de ter competência para isso”, justificou.

“Hoje o que procuramos preconizar é o bem-estar do doente e o tratamento da doença principal ou das doenças associadas”, acrescentou.

Para o psiquiatra, é necessário apostar na prevenção, “ousar mais e não desistir”.

“Houve uma melhoria gradual da qualidade [do tratamento da toxicodependência] até ao início deste século, depois houve um abrandamento e uma viragem de algumas estratégias, com as quais não concordo, e que permitiram algum retrocesso, nomeadamente na qualidade do atendimento e voltámos a ter listas de espera”, lamentou.