Torne-se perito

"A Irlanda não tem o problema das reformas estruturais"

Para o economista irlandês Philip Lane, o programa de ajuda externa ao país é encarado como "justo", mas é na força exportadora da economia que o crescimento está a alicerçar-se. O professor de Macroeconomia Internacional no Trinity College, em Dublin, explica o sucesso da intervenção na Irlanda.

A Irlanda tem sido vista como o primeiro caso de sucesso da intervenção da Europa e do FMI. Concorda com esta ideia?

Ainda é muito cedo para avaliar todo o sucesso, mas há alguns elementos que apontam no bom caminho. Em primeiro lugar, apesar de ser caro, o programa de ajuda externa permitiu uma rápida reestruturação e recapitalização do sistema bancário. Em segundo, as metas orçamentais foram atingidas, mas também não eram tão severas como, por exemplo, as da Grécia.

Parece que, na Irlanda, a austeridade não está a matar o crescimento...

A austeridade está certamente a prejudicar sectores que assentam na procura interna. Contudo, o sector exportador está a crescer e, como a economia é uma mistura destas duas componentes, está a crescer no seu conjunto.

A forma como a Irlanda está a ultrapassar a crise decorre mais das medidas do programa da UE e do FMI ou das próprias características de base da economia irlandesa?

Cada país tem os seus pilares fundamentais. O sucesso da Irlanda no sector exportador ergueu-se com base nas forças tradicionais que a economia mostra nesta área e não está directamente relacionado com o programa da UE e do FMI.

Quais são as principais diferenças que encontra entre o programa de ajuda irlandês e do de Portugal e da Grécia?

Provavelmente, a maior diferença é que a Irlanda não tem grandes problemas no domínio das reformas estruturais. A receita de crescimento irlandesa é bem conhecida - uma força laboral altamente qualificada e políticas que favorecem a fixação de empresas [por exemplo, a carga fiscal sobre as empresas é muito baixa, o que tem atraído várias multinacionais]. Na Grécia e em Portugal, há um problema que foi identificado e que passa por definir como melhorar a performance de crescimento a longo prazo.

O que um país como Portugal pode retirar do exemplo irlandês?

O pacote de austeridade orçamental é encarado como relativamente justo. Há uma lógica de progressividade na tributação de impostos (os grupos com maiores rendimentos pagam mais) e a população irlandesa compreende que o desequilíbrio nas contas públicas tem de ser corrigido.

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