Anónimo

Já dizia Mark Twain que nunca se deve deixar a verdade impedir uma boa história, e o alemão Roland Emmerich foi sempre um exímio seguidor dessa atitude (vide o risível “10,000 A. C.”). É precisamente por isso que não vale a pena entrar em “Anónimo” à espera que a sua “teoria da conspiração” sobre as peças de William Shakespeare como meros peões nos jogos políticos da corte inglesa nos tempos da Rainha Isabel I tenha um fundo de verdade - basta que seja apresentada de modo dramaticamente plausível. E até podemos dizer que não vai grande passo da teoria de Shakespeare como “testa de ferro” de um nobre disposto a usar o teatro como arma de manipulação política e à descrição de Isabel como diva esquizofrénica do recente “Elizabeth - A Idade de Ouro”. A vantagem, ainda assim, vai para o filme de Emmerich, por três razões: o profissionalismo desempoeirado e sóbrio do realizador alemão; a excelência do elenco reunido, com Rhys Ifans a provar que é melhor do que os papéis excêntricos em que se deixou encaixar, e uma Vanessa Redgrave imperial; e o regresso às palavras de Shakespeare ele próprio, dramaturgo de excepção como nunca mais houve na história da humanidade, admiravelmente encarnadas nos excertos de peças aqui incluidas.

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