Aleksandr Sokurov não gosta de cinema
"Sou mais uma pessoa das letras do que do cinema. Não gosto muito de cinema." Importa-se de repetir, Aleksandr Sokurov? Exacto: o imperscrutável cineasta russo, vencedor do Leão de Ouro em Veneza 2011 com a sua adaptação livre do "Fausto" de Goethe, disse a Steve Rose, do "Guardian", não ser um grande apreciador de cinema. Sokurov falava durante a sua estadia em Londres para acompanhar a retrospectiva integral da sua obra que o Instituto Britânico de Cinema lhe está a dedicar desde a semana passada, e que se estenderá até 30 de Dezembro no complexo BFI Southbank, sob o genérico "Uma Voz Espiritual". "Fausto", que não tem ainda data de estreia marcada para o nosso país, é o último filme de uma "tetralogia do poder" que viu o realizador falar dos grandes ditadores do século XX - Hitler em "Moloch" (1999), Lenine em "Taurus" (2001) e Hirohito em "O Sol" (2005), nenhum dos quais teve estreia em Portugal. A par dos outros filmes, "Fausto" é, nas palavras de Sokurov, sobre "um assunto muito sério e importante, como um grande romance. E os romances precisam de muito tempo". Definindo-se mais como parte de uma tradição europeia e citando os nomes de Dickens, Flaubert e Zola como influências, Sokurov rejeita pela mesma bitola as aclamações de "herdeiro de Tarkovski", motivadas pelo seu apadrinhamento por parte do falecido realizador. "A morte dele foi a maior perda da minha vida," disse ao "Guardian". "Ele tratava-me como um igual, com ternura e confiança ilimitadas. Sentia-me embaraçado. Parecia uma admiração que eu nunca seria capaz de merecer." Não falta quem concorde com Tarkovski, mas Sokurov prossegue o seu caminho imperturbavelmente.