Uma novela portuguesa, desta vez produzida em parceria com a TV Globo, venceu o Emmy de melhor telenovela pelo segundo ano consecutivo

Pelo segundo ano consecutivo, Portugal saiu vitorioso nos prémios Emmy, atribuídos pela Academia Internacional das Artes e Ciências da Televisão dos Estados Unidos. Depois de no ano passado a telenovela da TVI Meu Amor ter conquistado o primeiro Emmy na história da televisão portuguesa, este ano foi a vez de Laços de Sangue, uma co-produção da SIC e da brasileira TV Globo, arrecadar o cobiçado galardão de melhor telenovela. O prémio vem confirmar a crescente aposta dos canais generalistas na ficção nacional, que nos últimos anos tem ganho cada vez mais espaço na grelha de programação.

"Este é o reconhecimento de um trabalho que tem vindo a ser feito desde há 20 anos. Tudo isto começou com a Vila Faia [a primeira telenovela portuguesa estreada na RTP em Maio de 1982]", disse ao PÚBLICO Jorge Marecos Duarte, administrador da SP Televisão, produtora responsável por Laços de Sangue, explicando que o prémio recebido na segunda-feira em Nova Iorque (madrugada de terça-feira em Portugal) é um estímulo para a produção nacional e a prova de que é um produto com cada vez maior qualidade que o mercado nacional gosta de ver. "Há determinado grupo intelectual que diz mal das novelas, mas a verdade é que todos os dias há cerca de dois milhões de pessoas a vê-las. Não imagino nenhum outro produto com estes resultados", continua o responsável, apontando a telenovela como "um fenómeno cultural".

Parceria inédita

Laços de Sangue, cujo último episódio foi para o ar em Outubro com um milhão e meio de espectadores, juntou no pequeno ecrã nomes como Diana Chaves, Diogo Morgado, Joana Santos, Lia Gama, Custódia Gallego e João Ricardo. Foi nomeada para os Emmy na categoria de Melhor Novela Internacional, vencendo as concorrentes Araguaia (Brasil), também uma produção da TV Globo, Contra las Cuerdas (Argentina) e Precious Hearts Romances presents: Impostor (Filipinas).

A produção nacional, com direcção de argumento de Pedro Lopes, da SP Televisão, teve a coordenação do argumentista Aguinaldo Silva, da TV Globo, responsável por grandes sucessos brasileiros como Roque Santeiro, Tieta ou Pedra sobre Pedra, numa co-produção inédita com o canal brasileiro. "Este novela teve como proposta principal juntar os melhores talentos portugueses com os melhores brasileiros e o resultado foi este, o reconhecimento de um trabalho de excelência e a prova de que boas histórias podem acontecer em qualquer lugar do mundo", disse desde Nova Iorque ao PÚBLICO Raphael Corrêa, da TV Globo, para quem este prémio vem "reforçar e reafirmar o grande potencial das trocas de conhecimento".

A telenovela da SIC, que conta a história de duas irmãs (Diana Chaves e Joana Santos) separadas na infância depois de um trágico acidente e que se voltam a encontrar anos mais tarde - envolvendo-se num triângulo amoroso marcado pelos planos de vingança da irmã que, em criança, acabou por ser adoptada e afastada da sua família biológica -, contou, segundo Raphael Corrêa, com o apoio da Globo em todas as etapas de produção e gravação.

Para a actriz Lia Gama, que na telenovela foi a mãe das protagonistas, esta distinção internacional é "uma porta que se abre para a ficção portuguesa, que não se pode reduzir apenas às novelas". "Este é um estímulo para se investir mais e melhor na ficção nacional que pode e deve também passar pela produção de séries", disse ao PÚBLICO a actriz, que não escondeu a surpresa pela vitória. "Não duvidei pela qualidade, mas sim porque nunca pensei que Portugal ganhasse dois anos seguidos."

"Quando, do outro lado do mundo, reconhecem e apreciam o nosso trabalho, é um prestígio para os portugueses", disse a actriz Custódia Gallego, que ao lado de João Ricardo protagonizou um dos casais da novela mais apreciados pelo público. O segredo do sucesso? A boa promoção da SIC e a colaboração com a Globo. "Quando existe mais gente e mais conhecimento, o resultado será sempre mais rico."

Jorge Marecos Duarte, da produtora SP Televisão