Como profissional do espectáculo, sinto necessidade de escrever um artigo, comentando a crónica que o Dr. Vasco Pulido Valente (VPV), veio a publicar no dia 18 de Novembro no jornal PÚBLICO, intitulada "Teatro à portuguesa". Há muito que sigo as crónicas do citado senhor, contudo não posso compactuar silenciosamente com a forma leviana com que trata a classe artística teatral portuguesa, comentando de forma ignóbil a sua condição.
No seguimento do polémico despedimento do Director do Teatro Nacional D. Maria II (TNDMII), Diogo Infante, efectuado pelo actual Secretário de Estado da Cultura, o Dr. Francisco José Viegas, VPV alega que a razão que está por detrás das quezílias do financiamento ao teatro deve-se às mesmas questões do passado, pois "na altura em que passei pelo secretaria de estado da cultura percebi porquê: o teatro na aparência (repito: na aparência), não exige uma educação uma competência técnica verificável e universal". Pergunto-me se não deveria ser uma competência (repito: uma competência) de quem avalia os criadores e os projectos de teatro, daqueles que atribuem os subsídios? Contudo, a verdade é que não é raro ver gestores à frente de tais funções, que nada entendem das artes de cena.
VPV prossegue, "em 37 anos não apareceu uma única obra decente de dramaturgia portuguesa", não sei o que entende por decência, mas desprezar todo um trabalho de uma geração de dramaturgos, como o Jaime Rocha, o Abel Neves, a Hélia Correia, ou mesmo os mais novos, o José Maria Vieira Mendes, o Miguel Castro Caldas, o Jacinto Lucas Pires, entre muitos outros, é no mínimo inaceitável.
VPV diz ainda que "até o TNDMII, na impossibilidade de se ficar eternamente no Frei Luís de Sousa, apresenta geralmente traduções. De resto, não lhe falta só dramaturgia portuguesa. Também lhe falta público. Uma noite no Dona Maria é uma noite soturna". Este comentário é de uma ignorância assustadora, de quem não coloca os nobres sapatos há muito no dito Teatro. O TNDMII tem uma editora, a Bicho-do-Mato, que publica anualmente várias peças de dramaturgia portuguesa e estrangeira. E pelo menos no último ano, tanto na sala principal como na sala estúdio, o TNDMII esteve quase sempre esgotado (repito: esgotado).
Portanto, caríssimo VPV, não falemos de "teatro à portuguesa", porque apesar de nem todos termos crescido em colégios ingleses rodeados de meninas louras, nem de nos termos doutorado em Oxford, os "opinion makers" à portuguesa são bem mais levianos do que as gentes do Teatro.