A modernidade de Fialho de Almeida
O Colóquio Internacional Portugal no tempo de Fialho de Almeida (1857-1911), que se inicia hoje em Lisboa no Palácio da Independência, sede da Sociedade Histórica da Independência de Portugal (SHIP), vem chamar a atenção não apenas para um notável prosador, mas também para um dos mais esquecidos precursores da nossa modernidade.
Organizado pelo Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), em colaboração com várias instituições, o colóquio, cuja comissão científica é presidida por Annabela Rita, decorre até amanhã nas instalações da SHIP, seguindo para a FLUL nos dois dias seguintes.
Até se casar, em 1893, a vida de Fialho foi passada, como a de muitos intelectuais da época, nas tertúlias dos cafés e nas redacções dos jornais, em Lisboa. Colaborou em diversas publicações, fundou e dirigiu algumas revistas, como A Crónica ou A Ilustração, tendo conquistado reputação como crítico e cronista, ainda que não a merecesse menos o contista de livros como Contos (1881), A Cidade do Vício (1882) e O País das Uvas (1893). A sua obra hoje mais conhecida é porventura Os Gatos, uma série de 57 folhetos panfletários de "inquérito à vida portuguesa" que editou entre 1889 e 1894, e que mais tarde seriam compilados em seis volumes.
Com o seu humor corrosivo, Fialho de Almeida zurziu em muitos dos seus contemporâneos, incluindo Eça de Queiroz, e também foi atacado quanto baste, sobretudo no final da vida, quando, nas vésperas da República, se tornou um defensor assumido da ditadura de João Franco. Ainda assistiu à implantação da República, que não o entusiasmou excessivamente. Achava, de resto, que "em países cultos e com uma noção definida de liberdade, república e monarquias constitucionais são tabuletas anunciando uma só mercadoria".
A obra de Fialho de Almeida tem sido vista - e ele próprio a terá visto - como fragmentária e de qualidade desigual, mas esse seu carácter um tanto anárquico é justamente um dos aspectos que levará a primeira geração modernista, e sobretudo o próprio Fernando Pessoa, a render-lhe homenagem. Várias das comunicações deste congresso associam justamente Fialho de Almeida a Pessoa, e em particular ao seu semi-heterónimo Bernardo Soares, seu confesso admirador.