De menino pobre a rico e influente com a entrada no PSD

Tinha tudo para ser uma daquelas histórias de conto de fadas, mas os mais recentes episódios da vida de Domingos Duarte Lima mudaram por completo o cenário. Menino pobre do interior, que perdeu o pai aos 11 anos e se fez rico e influente à custa de muito esforço, dedicação e inteligência. Foi figura estrelar no período áureo do poder cavaquista, venceu depois a doença com a mesma tenacidade e dedicou-se à causa solidária de apoio às vítimas da enfermidade, e volta a estar agora hoje nas bocas do mundo pelos piores motivos.

Nascido em Miranda do Douro, no seio de uma família de nove irmãos, contou com o apoio de uma influente família local para rumar à capital, onde concluiu o liceu e se lançou no caminho do poder. A história de sucesso começou na Universidade Católica, onde com o apoio de uma bolsa concluiu o curso de Direito e conheceu Margarida Marante.

Impressionada com a tenacidade e inteligência do humilde colega de Trás-os-Montes, a então jornalista da televisão logo o recomendou a Ângelo Correia, responsável directo pelo núcleo do PSD na RTP. É o tempo da ascensão do cavaquismo e, com a chegada ao Ministério da Administração Interna, em 1981, Ângelo logo o nomeia como adjunto. "Era um rapaz pobre, apadrinhei-o", disse recentemente quando confrontado com as acusações de que Duarte Lima já era alvo.

A partir daí foi a imparável ascensão. Eleito deputado em 1983, vai conquistando influência e chega à liderança parlamentar em 1991.Destaca-se como acérrimo defensor da governação de Cavaco Silva, cultiva amizades entre os poderosos e começa a evidenciar sinais de enriquecimento. Por este tempos é também notada a sua participação nas missas dominicais transmitidas pela televisão pública, tocando o órgão que acompanha os coros.

As sombras começaram a aproximar-se já em finais de 1994, com a denúncia pelo semanário Independente de negócios suspeitos. A compra de uma valiosa quinta em Sintra, que registou em nome de uma sobrinha sem posses, e depósitos nas suas contas superiores a cinco milhões de euros num curto espaço de tempo obrigam-no a demitir-se e a recuar para os bastidores da vida política.

Foi já em tempo de retiro que é apanhado pelo diagnóstico de leucemia. Vence a doença com a tenacidade dos audazes e lança uma associação de apoio às vítimas daquela doença, com o que regressa à notoriedade e conquista certa admiração pública.

O conto de fadas parece, então, concretizado. O menino pobre de Miranda do Douro, que na primeira vez que foi eleito deputado declarou um rendimento anual de 265 euros (53 contos), reunia agora em seu redor a nata dos poderosos e exibia uma vida de luxo que não passava despercebida à imprensa cor-de-rosa. Volta ainda ao Parlamento com a liderança de Santana Lopes e chega até a ser anunciado para vice-presidente do partido com a eleição de Luís Filipe Menezes.

Era o canto do cisne. A estrela começa a empalidecer e o cenário de queda começa a desenhar-se com a ruína do BPN. A par de outras proeminentes figuras da era cavaquista, Duarte Lima é apontado como um dos beneficiários dos negócios criminosos do banco. O epílogo acontece com as suspeitas sobre os dinheiros da herança de Tomé Feteira e a rocambolesca morte de Rosalina Ribeiro.

O menino pobre, que se fez rico e influente com a entrada no PSD, está agora acusado de homicídio e detido por suspeita de fraude. Como quase sempre, os contos de fadas convivem mal com a realidade.

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