Risco de novo surto de sida entre toxicodependentes

Políticas de austeridade na União Europeia podem explicar aumento do número de casos notificados na Grécia

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Os cortes orçamentais podem comprometer as políticas de tratamento e de redução de danos Nelson Garrido

As políticas de austeridade em curso em vários países europeus, com as inevitáveis consequências orçamentais nos respectivos serviços de tratamento da toxicodependência, podem ter um sério revés: um novo surto de infecções de VIH/sida entre os chamados consumidores problemáticos de droga.

Este receio, expresso no relatório anual do Observatório Europeu e da Toxicodependência (OEDT), apresentado terça-feira, dia 15 de Novembro, em Lisboa, é motivado pela actual conjuntura económica, e pelos cortes orçamentais que lhes estão associados, mas tem já uma representação bem real.

Segundo os dados do relatório, relativos a 2009, a Grécia debate-se com um novo surto de infecção, consequência aparente da menor oferta de serviços de prevenção, tratamento ou redução de danos à população consumidora de droga por via endovenosa, quando, anteriormente, apresentava uma baixa prevalência de infecções.

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Novos casos de infecção por VIH diagnosticados em consumidores de droga injectada em 2009, na Europa e na Ásia Central

Dados dos 27 países da União Europeia

O mesmo documento, que compila dados dos 27 países membros da União Europeia, hierarquiza, do seguinte modo, os países em função do número de novos casos de infecção pelo VIH por milhão de habitantes: Estónia (63,3), Lituânia (34,9), Letónia (32,7, Portugal (13,4) e Bulgária (9,7).

Durante muito anos, Portugal foi recordista no surgimento de novos casos de infecção, devido ao facto de, nessa altura, contar com um elevado número de toxicodependentes. Embora a tendência decrescente fosse visível desde 2005, o OEDT situava Portugal, ainda em 2008, como o país da UE com o número mais elevado de novos casos de sida.

Na Europa, o índice médio de novos casos de infecção notificados continua a diminuir, tendo atingido, inclusive, um valor mínimo de 2,85 casos novos por cada milhão de habitantes, qualquer coisa à volta dos 1300 casos.

Problema de saúde pública

No entanto, a epidemia de VIH/sida entre os consumidores de drogas injectadas permanece como um grave problema de saúde pública em muitos países europeus, a despeito de todos os progressos registados, recentemente, em termos de prevenção, tratamento ou redução de danos. Refere o observatório que a relação entre o consumo de droga injectada e a infecção por VIH/sida é responsável pela morte anual de duas mil pessoas.

Wolfgang Götz, director do observatório, uma agência da UE com sede em Lisboa, afirma que, nos últimos dez anos, “uma abordagem proactiva, pragmática e cientificamente fundamentada produziu verdadeiros progressos na redução da infecção por VIH relacionada com a droga, em toda a UE”.

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