Diogo Infante afastado da direcção do Teatro D. Maria II

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O actor e encenador admitiu "incapacidade para honrar compromissos" Nuno Ferreira Santos
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O actor e encenador admitiu "incapacidade para honrar compromissos" Nuno Ferreira Santos

Secretário de Estado da Cultura diz não permitir encerramento ou suspensão da programação "de qualquer teatro nacional"

Foi já ao princípio da noite de ontem que o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, reagiu à posição assumida durante a tarde por Diogo Infante e anunciou que não o reconduziria no cargo de director artístico do Teatro Nacional D. Maria II (TNDMII).

A reacção deixava claro que a Secretaria de Estado da Cultura não iria permitir "o encerramento de qualquer teatro nacional ou a suspensão integral da programação do Teatro Nacional Dona Maria II". "O secretário de Estado da Cultura comunicou a Diogo Infante que não será reconduzido no seu mandato e deixará, de imediato, de desempenhar as funções de director artístico do TNDMII", lia-se no comunicado.

Actualmente, o cargo de director artístico era ocupado em gestão corrente depois de terminado o mandato em 30 de Setembro de 2011. E só por isso a SEC não fala em "demissão", mas sim em "não recondução" de Diogo Infante.

O actor, encenador e ex-director artístico do Teatro Maria Matos, em Lisboa, era assim afastado do cargo para o qual tinha sido nomeado em 2008 pelo então ministro da Cultura José António Pinto Ribeiro, depois de, ao princípio da tarde, ter anunciado a suspensão da programação de 2012 numa nota por si assinada e enviada às redacções.

Nela, o ainda responsável artístico da instituição invocava falta de meios e notava que, independentemente do que estava anunciado para 2012, nos valores projectados para 2011, os outros dois teatros nacionais - o Teatro Nacional de S. João, no Porto, e o Teatro Nacional de S. Carlos, em Lisboa - tinham apenas conhecido uma redução de 2,5%, enquanto o D. Maria II tinha sofrido um corte de 20%.

Ao mesmo tempo, falava em espectáculos "seriamente comprometidos" - dava os exemplos de A Morte de Danton de Büchner, em co-produção com os Artistas Unidos e Guimarães - Capital Europeia da Cultura e com encenação de Jorge Silva Melo, e de Lear de Shakespeare, com Eunice Muñoz - e não cancelados, sugerindo que talvez ainda houvesse espaço para um compromisso.

Em resposta a uma série de questões do PÚBLICO, relacionadas com esta caso, admitia, por email, pôr o cargo à disposição por "incapacidade de honrar compromissos de programação", dizendo ter alertado "directamente" o secretário de Estado da Cultura para essa situação.

"Se o Governo entender que o TNDM II deva tornar-se num espaço de acolhimento, cedência e aluguer, deixará de fazer sentido um projecto artístico. Nessa circunstância, naturalmente colocarei o meu lugar à disposição", especificava.

As garantias da SEC

Em resposta à posição de força assumida por Diogo Infante, no comunicado enviado pelo adjunto para a Comunicação João Villalobos, a SEC comprometeu-se a garantir a "regular continuidade da programação" e a anunciar "em breve" a escolha de um novo director artístico do teatro nacional.

Ao mesmo tempo, lembrou que "a redução orçamental de 20% [foi] aplicada pelo Ministério das Finanças a todo o sector empresarial do Estado", incluindo os três teatros nacionais e apontou a direcção artística e a administração do TDMII como responsáveis pelo não cumprimento das "metas estabelecidas e obrigatórias de redução dos custos" em 2011.

Além disso, invocou essa "recusa" dos responsáveis do teatro para justificar que "o TNDMII seja agora sujeito a uma redução adicional em 2012 equivalente ao corte obrigatório não efectuado durante o ano de 2011" e confirmar que a redução acumulada dos dois anos representa 36% - ou seja, menos 1,88 milhões de euros, como tinha apontado Diogo Infante, para explicar por que não tinha condições para "elaborar um plano de actividades realista e viável para 2012".

Em Outubro, a SEC fez saber que os cortes anunciados de 20% nas indemnizações compensatórias para 2012 (dinheiro que as instituições recebem por via do Ministério das Finanças e não da SEC) iriam estender-se aos teatros nacionais D. Maria II e S. João, como às restantes entidades pertencentes ao sector empresarial do Estado. E reafirmou a necessidade da "redução da massa remuneratória" e da programação em todas as estruturas visadas. Nessa altura, Diogo Infante falou em "corte brutal", mas não quis não quis pronunciar-se sobre possíveis consequências para o futuro do teatro. com Cláudia Carvalho e Lucinda Canelas

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