Operação policial nocturna desmantelou acampamento do Occupy Wall Street

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A operação em Wall Street resultou em quase 200 detenções ANDREW BURTON/REUTERS

Ordem partiu do mayor Michael Bloomberg, que avisou manifestantes que o espaço público é para ocupar com ideias e não com tendas e sacos-cama

Batia a uma da madrugada quando a polícia de Nova Iorque irrompeu pelo acampamento estabelecido há cerca de dois meses pelo movimento Occupy Wall Street (OWS) no jardim de cimento de Zucotti Park, no coração financeiro da cidade - uma operação montada com discrição mas executada com enorme aparato. "Isto agora é a sério", avisavam os agentes, pontapeando as tendas onde os manifestantes dormiam. "Está na hora de sair. Embora, embora."

Com cães, gás pimenta e equipamento antimotim, em menos de três horas, desmaterializou-se o acampamento estabelecido a 17 de Setembro como forma de protesto contra a disparidade económica e a desigualdade na distribuição de rendimentos. "Eu estava a dormir profundamente", contou à AFP Mutsukai Iroppoi, de 22 anos. "De repente, os polícias estavam a abanar a tenda aos gritos, a dizer que tínhamos 20 minutos para pegar nas nossas coisas e ir embora."

Grande parte dos cerca de 200 manifestantes no local dispersou voluntariamente. Outros ignoraram a ordem de despejo e tentaram resistir pacificamente ao avanço da polícia. Segundo um repórter da rede Democracy Now, a polícia usou algemas e gás pimenta para manietar alguns resistentes; outros foram forçados a abandonar o local à bastonada. Mas as alegadas cenas de violência foram presenciadas por poucos observadores independentes: as autoridades estabeleceram um cordão de segurança e impediram o acesso dos jornalistas ao local.

O comissário da polícia de Nova Iorque, Raymond Kelly, confirmou a detenção de 142 no parque e de outros 50 indivíduos nas imediações, acusados de desacatos e violação de propriedade privada. "Só foram detidos aqueles que quiseram ser detidos. Houve claramente uma intenção de provocar e desobedecer às ordens da polícia", referiu.

Justificando a ordem de despejo, o mayor de Nova Iorque, Michael Bloomberg, disse que a Primeira Emenda da Constituição, que consagra a liberdade de expressão e reunião, não conferia "imunidade" no respeito pelos regulamentos que proíbem acampamentos ad-hoc. "Os manifestantes que ocuparam o espaço público durante dois meses com tendas e sacos-cama, a partir de agora terão de o ocupar com as suas ideias."

Alguns comentadores norte-americanos, como por exemplo o progressista Matthew Yglesias, argumentaram que a iniciativa de Bloomberg acabou por fornecer um novo balão de oxigénio ao movimento OWS, cuja subsistência física no Zucotti Park estava ameaçada não só pelas condições climatéricas como pela crescente indiferença e desinteresse da população. "Isso seria desmoralizador para o movimento", observou. Ao avançar com o despejo nocturno, as autoridades contribuíram para "manter a relevância do protesto".

Outros acampamentos do OWS foram encerrados pela polícia: em Oakland, na Califórnia, Portland, no Oregon, e Salt Lake City, no Utah, depois de denúncias de crimes e outras ameaças à segurança e salubridade pública.

Os apoiantes do OWS de Toronto, no Canadá, também foram obrigados a desmantelar. E, em Londres, a City of London Corporation, entidade que gere o centro financeiro da capital, disse que vai retomar o processo judicial contra os manifestantes dos jardins da Catedral de São Paulo.

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