Ponte quinhentista desmoronou-se perto de Águeda sem provocar vítimas mortais
Um homem de 30 anos caiu ao rio e ficou ferido. Travessia sobre o rio Vouga aguardava há anos obras de reabilitação para as quais a Câmara de Águeda ainda não tinha verbas
Uma ponte situada no percurso da antiga Estrada Nacional n.º 1 desmoronou-se, anteontem à noite, em Lamas do Vouga, no concelho de Águeda, distrito de Aveiro. Um homem de 30 anos foi surpreendido pelo desabamento do tabuleiro, caindo ao rio. A vítima acabou por ser resgatada pelos bombeiros que acorreram ao local, mas sofreu alguns ferimentos.
A ponte de alvenaria foi construída no século XVI e tinha sido encerrada ao trânsito em Maio passado devido ao abatimento de um dos seus pilares. A Câmara de Águeda adiou a sua reabilitação por falta de verbas, depois de receber um estudo, por ela encomendado, que apontava para custos de vários milhões de euros.
O acidente ocorreu por volta das 21 horas. Os moradores nas proximidades da ponte ouviram um "estrondo" e, em seguida, os gritos de auxílio da vítima que caíra ao rio e reside na vizinha aldeia de Serém. Confirmavam-se, assim, os piores receios: a velha ponte medieval tinha ruído.
Ainda que estivesse encerrada ao trânsito há seis meses - a Câmara de Águeda colocou blocos de betão em cada uma das sua extremidades para impedir a circulação de automóveis ligeiros e pesados -, a passagem continuava a ser utilizada por peões e motorizadas. E sob o tabuleiro seguia uma conduta de abastecimento de água, que se rompeu com o desbamento da estrutura.
A população local fez questão de demonstrar a sua indignação logo na noite do acidente, quando o presidente da Câmara de Águeda, o socialista Gil Nadais, se deslocou ao local. Vários moradores não pouparam críticas à câmara devido ao arrastamento da situação de insegurança que se verificava no atravessamento, agora totalmente cortado. As críticas dos moradores foram também subscritas pelo presidente da Junta de Freguesia de Lamas do Vouga, Alcides Jesus.
Em declarações à Lusa, o autarca lamentou ontem que a câmara "não tenha feito nada" para evitar este acidente, apesar dos seus apelos, os últimos dos quais feitos em Setembro, numa reunião da assembleia municipal. "A câmara deveria ter recuperado a ponte há cerca de três anos, quando sentimos que havia deficiências e que os pilares estavam danificados", frisou o autarca.
"Não havia risco de ruína"
Tanto o presidente da Câmara de Águeda como o vice-presidente, Jorge Almeida, estiveram incontactáveis ao longo de toda a tarde de ontem. Contudo, já em Maio deste ano, quando foi tomada a decisão de encerrar a travessia, os responsáveis da autarquia haviam avançado que a recuperação da estrutura teria de aguardar por causa da falta de verbas para a levar por diante."Neste momento, a câmara não tem enquadramento financeiro para estes gastos e temos de procurá-lo", explicou então o vice-presidente do município, ao mesmo tempo que explicava que a obra envolveria meios financeiros "muito dispendiosos".
Os sinais de degradação na ponte, que transitou da antiga Junta Autónoma de Estradas para a jurisdição municipal em 1996, já eram notórios há algum tempo. Em 2010, por iniciativa da câmara, já tinha sido feita uma vistoria à estrutura, que concluiu que "não havia risco de ruína". Ainda assim, a empresa que efectuou a inspecção deixou a recomendação à autarquia para que houvesse algum cuidado em alturas de caudais mais fortes. E também sugeriu que se fizesse o encerramento preventivo ao trânsito pesado. Há seis meses, a autarquia optou, então, por cortar totalmente a via à circulação automóvel