Conhecimento sem fronteiras
Tribuna Redes de investigação e ensino
A comissária europeia Neelie Kroes recebeu, no dia 4 de Outubro, o relatório intitulado Knowledge without Borders e com subtítulo GÉANT 2020 as the European Communications Commons cuja preparação tinha sido solicitada a um conjunto de peritos europeus que integrámos.
As redes de investigação e ensino, que foram sendo criadas em meados da década de 80 do séc. XX, tiveram um papel determinante para os desenvolvimentos tecnológicos que conduziram à criação da Internet. Uns anos mais tarde, nos EUA, surgiu a Internet2 e na Europa a Rede GÉANT. No caso da Europa, a rede trans-europeia GÉANT liga as redes de investigação e ensino (NREN - National Research and Education Networks) que existem em todos os países da Europa. A Rede GÉANT é, reconhecidamente, a rede do seu tipo mais avançada do Mundo, tendo ultrapassado em tecnologias as redes de outras regiões, em especial a Internet2. Além disso, a Rede GÉANT foi dinamizadora da criação de infra-estruturas avançadas de comunicação para investigação e ensino, designadamente na América Latina (RedClara), no Norte de África (através da iniciativa EuromedConnect) e na África subsariana (Ubuntunet). Em Portugal, a Fundação para a Computação Científica Nacional, FCCN, opera a rede RCTS que liga em condições muito avançadas (muitas instituições já estão ligadas a 10Gbps e dispõem ainda de serviços ópticos adicionais) as nossas instituições de investigação e ensino superior à Rede GÉANT.
Mas o modo de fazer ciência está a mudar e é esse o foco central do relatório Conhecimento Sem Fronteiras. Assiste-se, em todas as áreas científicas, àquilo que já é designado por um data tsunami, isto é, em todas as áreas do conhecimento há uma enorme produção de dados científicos e estes precisam de ser trocados, à escala mundial, através de redes avançadas, depois precisam de ser tratados informaticamente em centros de computação espalhados pelo Mundo. E os cientistas precisam de ter acesso a conhecimento científico, esteja este onde estiver, e necessitam, ainda, de colaborar com colegas a qualquer hora e em locais muitas vezes distantes.
Uma outra área onde estas redes são imprescindíveis é no apoio à concretização de uma nova geração de instrumentos científicos, obtidos através da agregação à escala mundial de outros instrumentos mais simples que trocam dados científicos em alto débito e em tempo real. Por exemplo, na área da Astronomia, o sistema e-VLBI (electronic Very Long Baseline Interferometry) é uma colaboração de institutos de rádio-astronomia na Europa, Ásia e Africa do Sul que fazem observações de fontes de rádio cósmicas. Esta colaboração tem sido possível graças à elevada capacidade de redes dedicadas construídas sobre a rede GÉANT e veio abrir novas fronteiras ao trabalho científico.
Já estamos numa era em que o conhecimento não tem fronteiras. Isto leva a que as competências e os recursos para fazer trabalho científico estão espalhados pelo Mundo e, como os volumes de dados envolvidos são cada vez mais esmagadores, só redes muito avançadas como as redes de investigação e ensino têm provado serem a plataforma adequada. Muitos especialistas chamam a esta nova realidade o Data Tsunami na Ciência. Assim, a Comissão Europeia tem vindo a identificar as iniciativas políticas que deve prosseguir para manter a Europa na liderança desta área tão crucial para a Agenda 2020.
Em Portugal, a FCCN gere a rede de investigação e ensino nacional, que já disponibiliza à nossa comunidade científica muitos dos instrumentos que contribuem para que os nossos investigadores e os nossos alunos do ensino superior já estejam integrados no mundo do conhecimento sem fronteiras.