Certamente que quando Neil Armstrong disse, a 20 de Julho de 1969, "that's one small step for man, one giant leap for mankind", não imaginava que, quarenta anos e um dia depois, dois portugueses aproveitassem a deixa para iniciarem aquele que deve ser, muito provavelmente, o único "webcomic made in Portugal” dedicado ao cinema.
É claro que começar um projecto de banda-desenhada na internet não é tão emocionante como chegar à Lua, mas o mais certo é que JB e Carla Rodrigues (o nome dos autores) não sintam inveja, até porque nem devem acreditar muito na conquista espacial dos norte-americanos, visto que deram ao "comic" o nome de “A Garagem de Kubrick”.
Ou seja, a alusão à teoria conspiratória sobre a chegada do homem à Lua – em que tudo aquilo que tinha sido visto na televisão teria sido produzido pelo realizador de “2001: Odisseia no Espaço”, Stanley Kubrick – foi o pretexto para iniciar o projecto numa data importante (quarenta anos e um dia depois [21 de Julho de 2009]) e dar um bom título que envolvesse cinema (Kubrick).
A biologia do desenho
O objectivo principal era começar a “disparatar sobre cinema”, diz JB, o argumentista da BD. Um parêntesis: à boa maneira de super-herói, JB é pseudónimo. Uma espécie de alter-ego. Queriam saber mais? Ok: JB Martins. É assim que ele assina. Mas continua a ser pseudónimo. O que se pode dizer é que tem 26 anos e é jornalista.
Voltando à "webcomic", refira-se que se trata mais de uma rubrica do que de uma BD comum. Isto é, de duas em duas semanas, JB e Carla actualizam o site com uma história nova, representada sempre numa única página.
JB já tinha um blogue sobre cinema há seis anos – o Cineblog, “onde escrevia notícias, fazia críticas” –, mas quando viu que uma das principais seguidoras desenhava bem, falaram e decidiram avançar com a ideia. A seguidora era Carla Rodrigues, bióloga, 26 anos, do Porto. O que é que destoa aqui? Além do facto de Carla ser bióloga? O facto de JB Martins ser de Coimbra e o facto de, nestes dois anos de vida d’“A Garagem de Kubrick”, Carla e JB só se terem encontrado uma vez.
Apesar disso, Carla é das poucas pessoas que sabe o verdadeiro nome de JB. “É o nosso segredo”, diz. E a distância parece não ser problema para o projecto: “Graças à internet, tudo é possível. Desde que começamos, nunca houve um problema”, refere. O processo é fácil: JB vê filmes, alguns deles já mais do que revistos, imagina situações cómicas, escreve, envia para Carla, que por sua vez rabisca, mostra, espera o feedback e faz alterações.
Já são 33 edições que “A Garagem de Kubrick” conta. Tudo começou com Optimus Prime sentado no cinema, a assistir a um filme de Harry Potter, e a confessar, para a pessoa do lado, o quanto irreal e descabido lhe parece o universo de Hogwarts. Longa vida para “A Garagem de Kubrick”.