Sucessor de Carlos César "vai ter prova dura no imediato, mas o futuro chega assim"
Foi actor em peças de teatro escritas pela mãe, apurou o gosto pela música enquanto estudava Direito em Coimbra e integrava um grupo de fado. Desde que regressou aos Açores é só política
Nascido a 28 de Março de 1973 na pequena freguesia da Covoada, na ilha de São Miguel, Vasco Ilídio Alves Cordeiro foi escolhido pelo PS-Açores, por unanimidade registada nos órgãos dirigentes, para se candidatar à presidência do governo regional em 2012. Foi naquela localidade desanexada da freguesia da Relva, no sopé da Serra Devassa, e distando escassos seis quilómetros da sede de concelho, Ponta Delgada, que Vasco Cordeiro viveu a infância. No seio de uma família de lavradores e num meio essencialmente rural, abastecido pela água das Lagoas Empadadas, com predominância da agro-pecuária.
O mais novo dos três filhos de Luís e Lurdes Cordeiro, "desde miúdo revelou capacidade de liderança, empenho naquilo em que se envolvia e persistência na prossecução de objectivos", conta Antero Silva, amigo de infância e seu colega no ciclo básico frequentado na escola da Covoada e na preparatória em Canto da Maia. Essas qualidades, lembra, evidenciou-as quer no agrupamento da Associação de Escoteiros de Portugal e no grupo coral da localidade, quer em actuações pela ilha .
Vasco, recorda Maria José Cordeiro, "sempre foi um aluno muito aplicado, muito bem-comportado e com grande sentido de humor". Evidencia "sempre boa disposição e é muito sociável", acrescenta esta técnica de farmácia, relevando que, ao contrário do que "infelizmente acontece com algumas pessoas quando assumem superiores responsabilidades", o seu antigo vizinho "continuou a ser extremamente atencioso com as pessoas da terra depois de exercer advocacia ou de ter ido para o governo".Outra das suas actividades extra-escolares predilectas, além da música, foi o teatro e a leitura, gostos a que hoje junta o cinema, na medida que o permite a sua preenchida agenda política e agitada vida social. Não admira, em casa tem uma autora de peças, a mãe, que escreveu comédias ou dramas que Vasco e amigos representavam pela ilha, caso da Tradição e a Sogra.
O gosto pela música apurou-se na cidade atravessada pelo Mondego, onde se licenciou em Direito, ao integrar o Grupo de Fados de Coimbra Alta Medina. "Essa experiência marcou-me claramente", reconhece, ao apontar como "um dos momentos mais marcantes deste período" ter interpretado a Balada da Despedida do 5.º ano jurídico 90-95, na Queima das Fitas. "Lembro-me de estar à porta da Sé Velha, com o largo a abarrotar de gente, à espera de o meu grupo actuar, e de dar por mim a pensar no percurso que tinha feito até àquele momento, desde uma freguesia pequena da ilha de São Miguel, a Covoada, e como valeu e continua a valer a pena."
"Uma nova geração"
Regressa aos Açores em 1995 e começa a exercer advocacia. É também nesta altura que inicia a sua vida política, na Juventude Socialista, com o firme propósito, diz, de fazer algo pela sua terra. "Conheci-o em 1996 a fazer campanha eleitoral no porta a porta, onde imediatamente se destacou pela rapidez com que estabelecia uma verdadeira empatia com as pessoas e transmitia uma sensação de segurança e alegria", lembra o açoriano José Medeiros Ferreira, um dos ideólogos da autonomia insular e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros no Governo de Mário Soares.Com uma pós-graduação em Direito Regional, Vasco desempenhou as funções de assessor jurídico da Associação de Jovens Agricultores Micaelenses de 1998 a 2001. Entretanto foi presidente da JS-A, entre 1997 e 1999, assumindo em Novembro de 1996 o lugar de deputado à Assembleia Legislativa dos Açores. Liderou a bancada do PS, de Novembro de 2000 até ao início de Dezembro de 2003.
É nesta data que suspende o exercício da advocacia para substituir Ricardo Rodrigues - que se demitiu em consequência da onda de boatos relacionado como caso Farfalha, mas acabaria por nem sequer ser investigado ou constituído arguido - como secretário da Agricultura e Pescas. No ano seguinte passa a exercer as funções de secretário regional da Presidência no IX Governo Regional dos Açores, sendo presentemente o responsável pela pasta da Economia no quarto governo de Carlos César, que agora, ao decidir não se recandidatar, lhe abriu o caminho da sucessão.
Na sua meteórica carreira política, entre milhares de milhas feitas em aviões - "os nossos autocarros que ligam as ilhas entre si e estas com o exterior", como sublinha o ex-jornalista e seu assessor Nuno Mendes, que revela a costela de benfiquista, "não ferrenho", do governante -, Vasco conhece Paula Cristina, chefe de cabina na SATA-Air Açores, com quem se casou em 2008. São pais do Tomás, nascido há um ano, a 6 de Junho, a histórica data que em 1975 foi símbolo de liberdade do povo açoriano, de uma luta em prol das aspirações autonomistas e contra a tradição centralista do Estado português.
Vasco, frisa Medeiros Ferreira, "fez as escolas todas de um curso de responsável político e governamental". "Vai ter uma prova dura no imediato, mas o futuro chega assim." Por isso, conclui, a sua indigitação para próximo candidato do PS a presidente do governo é uma "excelente escolha".
Visão oposta tem a líder do PSD, Berta Cabral, que em 2012 o vai enfrentar na corrida ao Palácio de Sant"Ana, sede da presidência do governo. "Não basta mudar as caras, nem rodar de cadeiras, é preciso mudar de pessoas, de políticos e de políticas", afirmou a também presidente da Câmara de de Ponta Delgada, para quem a escolha socialista não representa a "verdadeira alternância" que é necessária no arquipélago.
O PSD-Açores, reage Cordeiro, "exige uma mudança de políticas na região, mas não conseguiu mudar de políticas nem de políticos nas últimas décadas". "Eu ainda era um jovem estudante e já Berta Cabral andava entre conselhos de administração de empresas públicas e cargos no governo regional", recorda o ex-líder da JS, frisando que a sua candidatura "significa que uma nova geração de açorianos responde presente e avança para a linha da frente deste combate pelos Açores".