Desde os 12 anos que Filipe Andrade sonhava trabalhar para a Marvel, a editora dos super-heróis. Hoje é dos poucos portugueses a desenhar para aquele "gigante" da banda desenhada.
Filipe Andrade, de 25 anos, é um dos artistas em destaque este ano no festival Amadora BD com três exposições, entre as quais uma dedicada ao livro "BRK", feito com argumento de Filipe Pina, e que foi eleito no ano passado pelo festival como o melhor álbum português de banda desenhada.
Tem ainda outra exposição sobre o que tem desenhado para a Marvel e uma terceira dedicada ao jogo da Playstation "Under Siege", para o qual contribuiu visualmente. É ainda o autor da imagem gráfica deste ano do Amadora BD, cujo tema central é dedicado ao humor.
Filipe Andrade tem dividido o tempo entre os Estados Unidos e Portugal e por estes dias andará por Lisboa e Amadora, por conta do festival, onde estará este sábado, 29 de Outubro, e amanhã para sessões de autógrafos.
Quase um desconhecido
Se há dois ou três anos era ainda um artista quase desconhecido - que se estreou oficialmente com o livro "BRK" - hoje Filipe Andrade colabora agora com uma das grandes "fábricas" da nona arte, a Marvel.
Foi por intermédio de outros amigos portugueses, que também assinaram já pela Marvel, como João Lemos, que Filipe Andrade conseguiu fazer chegar o portefólio às mãos dos editores da casa norte-americana. "É um sonho de miúdo tornado realidade", reconheceu Filipe Andrade à agência Lusa.
Entre o sonho dos 12 anos e a concretização, Filipe Andrade estudou na Faculdade de Belas Artes de Lisboa e rumou aos Estados Unidos para completar formação. Com dinheiro que amealhou com trabalhos como modelo, custeou as deslocações a feiras de banda desenhada, como a de Angoulême - referência na área - ou a Comic Con, de San Diego, nos Estados Unidos.
Mostrou o portefólio a muita gente até conseguir chamar a atenção das pessoas certas. Não foi só um golpe de sorte, foi persistência, disse. "Eu gosto bastante de viajar e isso ajudou a procurar a sorte. Se eu não me mexer, ninguém se vai mexer por mim", justificou.
Primeiro foi o Homem-de-Ferro
Um dos primeiros trabalhos que fez para a Marvel foi com a personagem Homem-de-Ferro, tendo sido o responsável pelo desenho e arte final em algumas histórias. Actualmente tem em mãos uma série centrada na personagem John Carter, um herói idealizado há cem anos por Edgar Rice Burroughs, o mesmo que criou Tarzan, e cujo primeiro volume saiu há pouco tempo nos Estados Unidos.
Filipe Andrade não tem contrato com a Marvel, mas já chegou a receber cerca de 300 dólares por página desenhada e o volume de trabalho é elevado. Há toda uma hierarquia de trabalho que se vai alterando, assim como o valor e o crédito do artista dentro da editora: "Comecei por fazer só os lápis [o esboço inicial], depois a arte final”, explicou.
Com prazos apertados e trabalho intenso, Filipe Andrade diz que se perdeu um pouco aquele encanto de estar na Marvel: "Mas continua a ser um bocado surreal e lisonjeador pensar que trabalho para aquela editora".