Partidos dividem-se entre críticas e aplausos

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"O capital financeiro olha para a Grécia como uma espécie de vaca leiteira", diz Jerónimo Nuno Ferreira Santos

"É a confirmação daquilo que tínhamos vindo a dizer. Todas as preocupações, esforços e medidas [da zona euro] apontam para continuar a injectar o capital financeiro. Dinheiro dos povos, dos trabalhadores, dos contribuintes para continuar a salvar a banca dos seus desmandos. Esta é a linha central que está ali colocada", disse Jerónimo de Sousa, na sede do PCP em Lisboa, no final de uma reunião com a direcção da CGTP.

A cimeira da zona euro decidiu ainda ampliar o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) e a recapitalização da banca. Para Jerónimo de Sousa, nenhuma destas medidas "são para ajudar o povo grego, são para evitar uma bancarrota do capital, mas não para evitar a bancarrota do povo grego, que está a viver uma situação dramática".

"Obviamente que o capital financeiro olha para a Grécia como uma espécie de vaca leiteira e não poderiam matá-la, porque perderiam todo o leite. Assim, mantendo a vaca viva mantém pelo menos metade da produção. É apenas uma imagem que reflecte que estas medidas não são para ajudar o povo grego", afirmou o secretário-geral do Partido Comunista Português.

Em relação a Portugal, Jerónimo de Sousa diz que sai da cimeira a "persistência na aplicação do pacto de agressão" aos portugueses, "mas com um anúncio: possivelmente vão tentar aplicar mais medidas graves sobre os trabalhadores e o povo português".

"Naquela cimeira, nem uma medida nem um anúncio daquilo que precisamos como pão para a boca, que é o apoio ao nosso crescimento económico, ao nosso aparelho produtivo, à nossa produção nacional, à possibilidade de potenciar o emprego. Zero. Apenas estas preocupações de concretização do pacto de agressão e de recapitalização da banca", acrescentou.

Jerónimo de Sousa considerou ainda "um golpe inaceitável na soberania nacional" o compromisso assumido pelos países da moeda única europeia de adoptarem a "regra de ouro" do equilíbrio orçamental, preferencialmente a nível da Constituição ou equivalente, para o final de 2012.

PSD sublinha "mensagem de confiança"

O PSD considera que a "mensagem principal" que saiu da cimeira da zona euro é a da "confiança no futuro próximo" e sublinha o "reconhecimento dos progressos feitos em Portugal" pelos líderes europeus.

"A mensagem principal é de confiança no futuro próximo, evidentemente sempre tendo em atenção a delicadeza da situação e não ser fácil à Europa e a Portugal sair da situação em que se encontra", disse o líder parlamentar social-democrata, Luís Montenegro, em declarações à agência Lusa.

Mas, acrescentou, "os passos que foram dados relativamente aos mecanismos que possam minimizar eventuais efeitos de contágio se a situação se deteriorar, relativamente à capitalização da banca, relativamente ao reconhecimento dos progressos feitos em Portugal são um sinal de esperança de que vamos conseguir ultrapassar esta situação".

Os países da moeda única europeia assumiram ainda o compromisso de adoptarem a "regra de ouro" do equilíbrio orçamental, preferencialmente a nível da Constituição ou equivalente, para o final de 2012.

Luís Montenegro sublinhou que o PSD "já no ano passado demonstrou abertura para aprofundar" a questão da eventual constitucionalização do equilíbrio das contas públicas.

Segundo o deputado, o CDS, que também apoia o Governo, também já fez o mesmo, mas o PS ainda "não se manifestou em termos definitivos" sobre a questão e uma mudança destas exige uma maioria qualificada na Assembleia da República.

Sobre a referência a Portugal na declaração final da cimeira, e a eventual necessidade de mais medidas de austeridade no futuro, o líder parlamentar do PSD defendeu que o país tem de "se concentrar em cumprir as metas estabelecidas e em executar plenamente" as medidas já adoptadas e aquelas que serão agora adoptadas com o Orçamento do Estado para 2012.

CDS saúda “passo importante”

O líder parlamentar do CDS-PP, Nuno Magalhães, considerou hoje que foi dado "um passo importante" com as decisões saídas da cimeira europeia, realçando que há o reconhecimento dos "esforços e sacrifícios" de Portugal.

"Este conjunto de decisões são um passo importante porque permitiram quebrar o impasse preocupante que estava a ocorrer para uma solução para a União Europeia", afirmou à Lusa Nuno Magalhães.

O líder da bancada democrata-cristã sublinhou que "a reacção dos mercados" às conclusões da cimeira é "encorajadora", apesar de reconhecer que persiste um "problema de fundo, que é a necessidade de a Europa não ser reactiva, mas sim ter uma reposta integrada global e concluir a reflexão do Governo económico europeu" que possa "evitar estas cimeiras e soluções avulsas".

"Não obstante, não deixamos de realçar que são passos importantes", disse.

"Do ponto de vista português, não deixamos de notar que os líderes europeus, e ao contrario do que acontece em Portugal de forma demagógica, vêem os esforços e os sacrifícios que o Governo português foi obrigado a impor aos portugueses como passos positivos, como progressos, afastando-nos cada vez mais da situação da Grécia", defendeu.

Nuno Magalhães insistiu que "todas as declarações de líderes europeus e as próprias conclusões da cimeira notam um afastamento da situação portuguesa em relação à Grécia, o que de um ponto de vista meramente nacional não deixa de ser encorajador para a continuação de reformas que são difíceis mas são necessárias".

Desfecho foi "positivo", diz PS

O PS considerou hoje “positivo” o desfecho da cimeira, mas salientando que “as soluções estruturais” para a Europa “continuam por ser encontradas”.

“A cimeira foi positiva e deu bons sinais e bons indicadores. Foi um bom indicador o envolvimento do sector privado, mas a Europa continua a reagir tarde e – como se viu neste caso – a más horas. Portanto, as soluções estruturais continuam por ser encontradas, continuamos com a sensação que são soluções de conjuntura”, disse à agência Lusa o secretário do PS para as Relações Internacionais.

Para João Ribeiro, é necessário “ir mais longe com a revisão dos tratados, com a criação de ´eurobonds´, com o fim dos paraísos fiscais, com a efectiva taxação das transacções financeiras internacionais” e também com “políticas de crescimento e de criação de emprego” em que, afirmou, a declaração final da cimeira “é completamente omissa”.

“As boas notícias para a Grécia são boas notícias para a Europa e para Portugal. Mas os problemas fundamentais de crescimento económico e criação de emprego permanecem sem resposta”, comentou.

Resultado “desgraçadamente curto”, lamenta BE

A deputada do Bloco de Esquerda Ana Drago considerou "desgraçadamente curto" o alcance das conclusões da cimeira europeia face às "incertezas" vividas na zona euro e defendeu que mais austeridade levará a uma "situação explosiva".

"Foi tudo desgraçadamente curto para as incertezas que se estão a viver na zona euro. A conclusão da reestruturação da zona euro não está feita e não está concluído o reforço do fundo de estabilização", afirmou Ana Drago à Lusa.

Por outro lado, o BE manifestou "muita preocupação" pela forma como foi pedida "mais austeridade que colocará Portugal no caminho da Grécia, com uma situação explosiva provocada por austeridade em cima de austeridade".

O BE defende a reestruturação da dívida dos países que foram intervencionados e um debate sobre o "papel do Banco Central Europeu", a quem reconhecem um "papel importante na compra de divida no mercado secundário".

"Deve ser feita uma reflexão séria sobre se o BCE não deverá comprar dívida no mercado primário, como forma de estancar esta sangria nos mercados", afirmou, reiterando igualmente a defesa das obrigações europeias, as chamadas "eurobonds".

Notícia actualizada ás 15h57