A ocasião é tão boa como outra qualquer para um pequeno “manifesto anti-Soderbergh”, que de cineasta sobrevalorizado se tornou em mestre do “bluff”, e hoje é um cineasta esgotado, incapaz de ter uma ideia que não seja, em si mesma, um truque. “Contágio”, correcto e razoavelmente eficaz, irrita menos do que as “Confissões de uma Namorada de Serviço”, mas no fundo é a mesma coisa, com um vírus no lugar de uma actriz porno; a lógica do “frisson” é a mesma, o tipo de solicitação (ao espectador) é o mesmo. Vale-lhe uma neutralidade “jornalística” (que se trai bastantes vezes, de resto), tão desafectada, tão desafectada que acaba por se confundir com uma indiferença e - facto - com a total ausência de um ponto de vista. Há um vírus no centro da história, mas é um cinema sem virulência alguma. E é isto que Soderbergh é hoje: alguém que domina cinicamente todos os mecanismos do “autorismo” mas não tem uma personalidade para lhe “infectar” os filmes. Puro pim-pam-pum, portanto.
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