Concerto tépido, mas com Prégardien

Orquestra Sinfónica do Porto

Porto, Casa da Música - Sala SuggiaSábado, 22 de Outubro, 18h00Obras de Rihm, Schubert e NunesSala a 2/3

O último concerto da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música (OSPCdM) resultou num momento tépido em que o melhor foi ter ouvido a encantadora voz do tenor Christophe Prégardien.

Da música de cena para o drama Rosamunde de Helmina von Chézy, D. 797, de Franz Schubert, Peter Rundel escolheu os Entr"actes nº 1 e nº 3 para abrir o programa. Não se tratando das páginas mais geniais da literatura orquestral do séc. XIX (um pouco distantes em interesse do quarteto de cordas Rosamunde, D. 804, do mesmo compositor), os andamentos apresentados teriam beneficiado com uma leitura um pouco menos "lisa" (e também com um pouco mais de rigor na execução).

Não se adivinhasse ainda o que vinha Prégardien cantar, dir-se-ia que tal introdução não pesaria qualquer influência na qualidade do concerto. Só que o pretexto para o regresso do aclamado tenor à Sala Suggia era afinal apenas uma obra do compositor alemão Wolfgang Rihm (em residência na Casa da Música em 2011).

Partindo de quatro belos poemas de Rainer Maria Rilke, conhecidos como Escritos do Espólio do Conde C. W., Rihm compôs cerca de 25 minutos de um ambiente sonoro introspectivo, tristonho e, ao fim de alguns minutos, muito pouco estimulante. Não fosse a possibilidade de admirar as extraordinárias qualidades vocais e dramáticas de Prégardien e esses 25 minutos de Rilke teriam custado a passar.

Poder-se-ia ainda esperar que a noite fosse inteiramente salva por uma obra tão interessante como Musivus (1998/2001), para orquestra em quatro grupos, de Emmanuel Nunes. É certo que em trabalhos como este, em que o espaço representa um importante parâmetro da escrita musical, é absolutamente preferível ouvir ao vivo uma interpretação sofrível do que o melhor dos registos sonoros da melhor da interpretação. Nessa medida, pois, a noite não foi perdida, mas o nível de execução foi mais ou menos regular na sua tibieza. E o ouvinte menos desatento não poderá ter deixado de aperceber alguns desencontros de ataques que logicamente deveriam ter sido simultâneos, bem como "ressonâncias" que chegaram um pouco desfasadas do ataque que supostamente representaria a sua origem.

Para os mais distraídos, o concerto deixa ainda a notícia de que não se encontra extinto o Círculo de Cultura Musical do Porto (CCM-P) - organismo actualmente tão discreto, detentor de uma história notável.

Diana Ferreira

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