Graffiti têm vindo a aumentar nos comboios e custam caro à CP

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Por vezes, os Nuno Ferreira Santos

A CP já gastou este ano mais de 236 mil euros na limpeza de graffiti. Uma quarta parte desse valor foi gasto nas composições da Linha de Cascais

Inesperadamente, o comboio pára em plena via. Alguém puxou o sinal de alarme na carruagem da frente. Enquanto o maquinista e o revisor detectam o problema e rearmam o sinal de alarme, um grupo de jovens salta para a linha na última carruagem desta composição da Linha de Cascais e cobre-a de graffiti.

Esta é uma das formas de actuar dos grupos de writers (é assim que os autores dos graffiti se designam a si mesmo), que têm vindo a deixar marcas bem visíveis e que desagradam profundamente a muitos passageiros dos comboios da CP. O fenómeno ocorre em todo o país, mas com particular incidência nas linhas suburbanas de Lisboa e Porto.

Entre Janeiro e Agosto deste ano, a CP já gastou mais de 236 mil euros na limpeza dos graffiti nas suas composições. Um valor que só nos comboios da Linha de Cascais ascende a cerca de 60 mil euros, ou seja, 25% do total.

Face a esta situação, a transportadora ferroviária reuniu elementos sobre a área grafitada nas suas composições, por forma a avaliar a dimensão do problema. Em 2009, foram pintados 43 mil metros quadrados de área exterior dos comboios. No ano seguinte, esse número desceu para 40 mil metros quadrados, mas este ano, e apenas até Agosto, já tinham sido grafitados 31 mil metros quadrados de carruagens e locomotivas.

A maioria dos passageiros já quase se habituou aos comboios totalmente pintados, com carruagens inteiras onde, por vezes, nem se consegue ver a paisagem exterior. A CP confirma que o fenómeno dos graffiti é mais acentuado na Linha de Cascais e, para agravar o problema, esta é a linha do país onde há mais falta de material circulante, pelo que não há disponibilidade para o imobilizar nas oficinas, por forma a viabilizar as operações de limpeza.

"As carruagens não estão a ser limpas com a rapidez habitual e desejável e, por isso, os graffiti mantêm-se mais tempo e têm, em consequência, maior visibilidade", explica Ana Portela, responsável pelo serviço de comunicação da empresa.

A transportadora considera que existe "um fenómeno organizado nesta área do vandalismo", com uma incidência superior nesta linha, onde actuam grupos de "forma concertada" para conseguir iludir a vigilância e concretizar acções de grafitagem.

Nos parques de material, os comboios ocupam muitas centenas de metros e não é possível colocar um segurança junto de cada composição. Por vezes aparecem grupos de dez ou mais jovens que actuam de forma descarada a pintar os comboios perante a impotência do vigilante, que não pode fazer mais do que chamar as autoridades.

Até o Air Force One...

Outras vezes efectuam manobras de diversão num local para distrair o segurança enquanto o grosso do grupo "ataca" no extremo oposto.

Ana Portela diz que estes jovens não são violentos, mas gostam de arriscar porque, no mundo dos writers, são atribuídas pontuações pela ousadia das pinturas que conseguem executar. Existem tabelas onde a pontuação mais elevada vai para quem conseguir pintar um carro da polícia com os agentes em serviço lá dentro. E, à escala internacional, o próprio Air Force One (o avião presidencial dos Estados Unidos) já foi grafitado, havendo mesmo um filme dessa acção no YouTube.

A atracção pelas pinturas nos comboios faz com que muitos writers programem as suas férias no estrangeiro em função deste "desporto". Portugal é, pelos vistos, um país apetecível, pois têm sido vários os estrangeiros (normalmente oriundos de países ricos) que têm sido apanhados a grafitarem composições da CP.

Recentemente, na Linha de Cascais, um grupo de estrangeiros foi apanhado em flagrante a pintar um comboio durante a noite. Intimados para comparecerem na esquadra na manhã seguinte, fizeram-se acompanhar de um intérprete e de um advogado. O revisor da CP que presenciou a acção e alertara as autoridades compareceu sozinho.

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