Julian Barnes livrou-se da maldição do Man Booker

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Julian Barnes anteontem na cerimónia de entrega do prémio LUKE MACGREGOR/Reuters
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Julian Barnes anteontem na cerimónia de entrega do prémio LUKE MACGREGOR/Reuters

O escritor britânico venceu o prémio com o romance The Sense of An Ending que vai ser publicado brevemente em Portugal. À quarta foi de vez

Julian Barnes, no discurso de agradecimento pelo prémio Man Booker para ficção 2011 que recebeu anteontem à noite, em Londres, Reino Unido, pelo romance The Sense of An Ending (ed. Jonathan Cape-Random House), lembrou Jorge Luis Borges. Ano após ano, o argentino viu o Prémio Nobel da Literatura ser atribuído a outros escritores e, quando insistiam em perguntar-lhe se tinha alguma explicação para isso, Borges respondia que só podia haver na Suécia uma "indústria artesanal" a conspirar para que o prémio nunca fosse dele. "Nos últimos anos, em momentos ocasionais de paranóia, interroguei-me se não haveria alguma coisa parecida, uma organização sinistra que operasse por aqui. Por isso estou aliviado e feliz por receber este prémio", afirmou Julian Barnes na cerimónia que decorreu no London"s Guildhall, onde recebeu o cheque de 50 mil libras (cerca de 57 mil euros) do Man Booker 2011 pelo romance, que já foi comprado pela Quetzal e será publicado em Portugal em breve.

O escritor britânico, 65 anos, é autor de dez romances, de três livros de contos, de antologias com ensaios e crónicas que publicou em jornais e também a série de policiais escritos com o pseudónimo Dan Kavanagh. Em Portugal, a sua obra está publicada na Asa e, mais recentemente, na Quetzal. Por três vezes, Julian Barnes integrou a lista de finalistas do prémio Man Booker para ficção, com os romances O Papagaio de Flaubert, em 1984; Inglaterra, Inglaterra, em 1998, e Arthur & George, em 2005 e perdeu sempre. À quarta, foi de vez.

Conta o jornal The Telegraph que Barnes estava com medo de não conseguir escapar a ter o mesmo destino da romancista britânica Beryl Bainbridge. Ela, por cinco vezes, esteve entre os finalistas do Man Booker e, depois da sua morte, em 2010, atribuíram-lhe um prémio especial: o Best of Beryl.

A presidente do júri, Stella Rimington (antiga directora do MI5 que escreve livros de espionagem), disse que a reunião onde ficou decidido o vencedor demorou meia hora. No centro da discussão não esteve o facto de ser a quarta vez que Julian Barnes era nomeado para este prémio. O júri - composto por Matthew d"Ancona (escritor e jornalista), Susan Hill (escritora), Chris Mullin (político e escritor) e Gaby Wood (responsável da secção de livros do jornal Daily Telegraph) - considerou que a obra "tem as marcas de um clássico da literatura inglesa: está extraordinariamente bem escrita, tem um enredo subtil e revela novos sentidos a cada leitura" e decidiu por unanimidade.

"Gostaria de agradecer ao júri pela sua sapiência e aos patrocinadores pelo cheque", disse Barnes, que nunca lê o que os críticos escrevem sobre os seus livros, tal como não leu o que foi saindo nos jornais a propósito do mais importante prémio literário britânico, embora os amigos o tenham mantido informado (referia-se à polémica de as obras de Alan Hollinghurst e de Graham Swift não estarem entre os finalistas e de o prémio estar a ser acusado de dar menos importância à qualidade literária das obras do que à sua legibilidade).

Durante os últimos anos, Julian Barnes disse que via o Man Booker como um posh bingo. Na conferência de imprensa explicou que queria dizer que há "um aspecto de lotaria nisto e isso é objectivamente verdadeiro". O prémio Man Booker tem tendência para deixar as pessoas enlouquecidas enquanto não o recebem, mas, depois de o terem, os escritores percebem que "os membros do júri são as pessoas mais ajuizadas e sábias de toda a cristandade literária", brincou.

A lista de finalistas do Man Booker de 2011 era composta por The Sisters Brothers, do canadiano Patrick DeWitt (que estava entre os favoritos); Jamrach"s Managerie, de Carol Birch (autora que esteve na lista longa do Booker de 2003); Half-Blood Blues, da canadiana Esi Edugyan; Snowdrops, de A.D. Miller (Quando a Neve Começa a Derreter, sairá em Portugal na editora Civilização), e Pigeon English, de Stephen Kelman. Dos seis finalistas, o romance de Julian Barnes, The Sense of An Ending, é aquele que tem menos páginas: 150.

No seu humor particular, o escritor contou que alguns dos leitores lhe disseram que, quando chegaram à página 150, voltaram ao princípio e recomeçaram a leitura. "Por isso agora olho para o livro como se fosse um romance de 300 páginas!", afirmou.

O tema do livro é a amizade durante a infância, o suicídio e as imperfeições da memória. É a história de um homem que já passou a meia-idade e que se apercebe que algumas coisas que lhe aconteceram na vida afinal não eram bem como ele as pensava. É um livro sobre "o tempo e a memória e sobre o modo como o tempo afecta a memória", define Julian Barnes, que dedica o livro a Pat, a famosa agente literária que era a sua mulher e morreu em 2008.

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