A nova casa da Gulbenkian abre hoje as portas, em Paris

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O edifício data de 1869 e foi adaptado pela arquitecta Teresa Nunes da Ponte cortesia da Fundação Calouste Gulbenkian

O número 51 da Avenue d"Iéna ficou pequeno. A fundação tem novas instalações no número 39 do Boulevard de la Tour Maubourg

Em 1922, o milionário de origem arménia Calouste Sarkis Gulbenkian comprou uma mansão no número 51 da Avenue d"Iéna, em Paris. Desenhada originalmente por Paul-Ernest Sanson e construída em 1889, foi adaptada por Gulbenkian para aí poder viver com a família e guardar a sua colecção de arte.

Mas em 1940 Gulbenkian partiu para Vichy e em 42 para Lisboa, onde se instalou definitivamente e onde veio a morrer em 1955. Quando Portugal negoceia com o Governo francês a vinda da colecção para Lisboa, é tomada a decisão de criar um centro cultural em Paris. E, a partir de 1965 até hoje, a mansão da Avenue d"Iéna tem sido um dos locais centrais da cultura portuguesa em França.

Só que o edifício foi-se tornando pequeno, com crescentes problemas de manutenção e desadequado às funções - sobretudo, explica Rui Vilar, presidente da Fundação Gulbenkian, à biblioteca de 20 mil volumes que "estava dispersa por inúmeras salas, não permitia o livre acesso dos utentes, nem dispunha das tecnologias multimédia que hoje fazem parte de qualquer centro de recursos" (o acervo total é de 90 mil volumes, mas só parte poderá estar disponível).

Esse problema fica resolvido a partir de agora, nas novas instalações - que inauguram hoje - da delegação da fundação em Paris, no número 39 do Boulevard de la Tour Maubourg. O local escolhido é na margem esquerda do Sena, perto do Hotel National des Invalides, da UNESCO e de outros centros culturais, entre os quais o chinês, o inglês e o canadiano.

O novo edifício data de 1869 e foi adaptado pela arquitecta Teresa Nunes da Ponte, mantendo-se a fachada mas tendo-se remodelado todo o interior. São 1900 metros quadrados distribuídos por cinco andares e uma cave, o que permite ter - além da biblioteca, agora em óptimas condições de acesso -, uma sala polivalente com 140 lugares e uma área de exposições com 240 metros quadrados. Há ainda dois gabinetes para investigadores e um pátio interior com uma pequena zona de convívio. É nesse espaço que se instalará, no próximo ano, um Dialogue Café, uma parceria da fundação com a Aliança das Civilizações das Nações Unidas e a Cisco.

No novo espaço expositivo pode ser vista a partir de amanhã (e até 16 de Dezembro) a exposição que inaugura o centro - Terre Transformée, comissariada por Sérgio Mah, com trabalhos (fotografia e vídeo) de artistas como Tacita Dean, Filipa César ou Claudia Angelmeier.

Para Janeiro, está prevista a primeira grande exposição em Paris da obra de Paula Rego, e em Abril uma dedicada ao trabalho do fotógrafo Gérard Castello-Lopes. Ainda em 2012, Sérgio Mah comissaria uma nova exposição, desta vez, a partir do tema Identidades Europeias.

A ideia do centro, sublinha Rui Vilar, é ser um espaço aberto ao debate dos grandes temas contemporâneos - a Europa, a inovação social, o diálogo intercultural, o ambiente. Dirigido por João Caraça, director do Serviço de Ciência da fundação, terá uma programação que arranca amanhã com a conferência Le Manifeste de l"Altruisme, por Philippe Kourilsky, do Collége de France. E prossegue com outra conferência, a 14 de Novembro, com o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso. Ainda em Outubro, haverá um colóquio sobre o intelectual e ensaísta Eduardo Lourenço.

Outro objectivo do centro é a colaboração com várias instituições culturais parisienses - e a parceria com o Théâtre de la Ville começa já em Novembro com iniciativas do programa Próximo Futuro, que se realizou em Lisboa. A ideia, segundo Rui Vilar, é também chegar a um público mais jovem, nomeadamente através de uma maior articulação com a residência universitária André de Gouveia (criada na mesma altura que o centro, nos anos de 1960).

Quanto ao simbólico edifício da Avenue d"Iéna, a saída da fundação foi uma decisão, diz Rui Vilar, que teve o total acordo da família de Gulbenkian. O neto, Mikhael Essayan, explicou que o avô "via a casa como um peso e uma preocupação" e que dizia que a compra tinha sido "o seu maior erro". O número 51 da Avenue d"Iéna será agora vendido. Alexandra Prado Coelho

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