Da crise do subprime à da dívida soberana, o desemprego varreu o mundo

Quando o mundo mergulhou na pior recessão desde a Grande Depressão dos anos 30, estávamos longe de pensar que, três anos depois, a palavra crise continuaria a fazer parte das manchetes dos jornais, a dominar as preocupações dos governos e dos bancos centrais e a afectar a confiança das empresas e dos consumidores. A economia americana dá fortes sinais de debilidade e viu o seu rating máximo reduzido, a zona euro enfrenta a maior prova de fogo de sempre, a saúde dos bancos voltou a levantar dúvidas e nem os países emergentes parecem capazes de voltar a ser o motor da economia mundial, como foram na crise de 2008-2009. Para os cidadãos, basta uma palavra para resumir o impacto da crise: desemprego.

De acordo com as previsões do FMI, a grande maioria dos países da União Europeia (UE), bem como os EUA e o Japão, terão este ano uma taxa de desemprego superior à registada em 2007, antes da eclosão da crise. Pior ainda: em 2016 (último ano para o qual o FMI tem estimativas), EUA, Japão e 20 dos 27 Estados da UE vão apresentar um desemprego mais elevado do que em 2007. Em Portugal, por exemplo, a percentagem de pessoas sem trabalho será de 10,2% dentro de cinco anos, o que compara com os 8,9% registados em 2007. Em 2016, dentro da UE a 27, só a Alemanha, Malta, Áustria, Polónia e Suécia terão uma taxa de desemprego inferior ao período pré-crise.

O último estudo da OCDE refere que há 44,5 milhões de pessoas desempregadas nos 34 países-membros da organização, mais 13 milhões do que antes da crise. O desemprego jovem e o de longa duração não têm parado de aumentar e prometem trazer cada vez mais dores de cabeça às economias e aos governos. Ainda assim, no início deste ano, a convicção geral era de que a recuperação económica se mostrava suficientemente forte para os bancos centrais começarem a subir as taxas de juro e os governo começarem a reduzir os pesados défices e dívidas. O optimismo acabou por revelar-se excessivo.

Subprime e default grego

Há três anos, o subprime (crédito hipotecário de alto risco), que envenenou os balanços dos bancos americanos, precipitou o mundo para uma crise financeira. Os bancos deixaram de emprestar entre si e fecharam a torneira do crédito às empresas e às famílias. Os Estados foram obrigados a comprar acções nos bancos ou mesmo a nacionalizar instituições, nos EUA e na Europa.

Mas aquilo que começou por ser uma crise financeira americana rapidamente se estendeu à economia real mundial. A Europa, os EUA e o Japão entraram em recessão, afectando o crescimento das principais economias emergentes. Tentando evitar uma nova Grande Depressão, os governos investiram em políticas fiscais expansionistas e estímulos para reerguer a actividade económica.

Os bancos centrais europeu e americano baixaram as taxas de juro de forma agressiva, para perto de zero, aumentaram o volume de liquidez à disposição dos bancos e compraram dívida pública. Mas a solução revelou-se uma faca de dois gumes, ao inundar os mercados financeiros de dinheiro e estimular a escalada dos preços das matérias-primas energéticas e alimentares. Isto, por sua vez, contribuiu para os movimentos de revolta em alguns países do Médio Oriente e Norte de África, que ficaram conhecidos como a Primavera Árabe.

Mas o que os líderes mundiais não anteciparam é que a resposta que deram à crise financeira e económica de 2008-2009 acabaria por gerar uma nova crise: a da dívida soberana. As ajudas à banca e os estímulos à economia engordaram os défices e dívidas públicas dos Estados, levando os investidores que compram obrigações (títulos de divida) a questionar se aqueles países teriam dinheiro para saldar os seus compromissos financeiros.

O resultado foi uma subida galopante das taxas de juro que os países pagam para se financiar nos mercados, o que obrigou a Grécia, a Irlanda e Portugal a pedirem ajuda externa. Sucederam-se os planos de austeridade para conter os défices orçamentais e restaurar a confiança dos mercados. Mas também se multiplicaram as desconfianças de que o preço que está a ser pedido aos países endividados seja demasiado caro, empurrando as economias para uma recessão permanente.

Ao perigo iminente de um default (incumprimento) na Grécia, junta-se uma economia americana frágil com um desemprego elevado, que oscila entre a necessidade de fornecer mais estímulos à economia e de reduzir um défice e dívida pública gigantescos. A agravar o cenário, as principais organizações internacionais apontam para um abrandamento da actividade económica nas potências emergentes. E, na Europa, teme-se que o fardo da dívida soberana gere uma nova crise financeira internacional, que mergulhe de novo o mundo numa recessão. Ana Rita Faria

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