Primeiro filme para cinema de um actor cómico da televisão inglesa, “Submarino” mexe-se por territórios conhecidos. Uma narrativa de “coming of age”, uma Inglaterra (ou enfim, e mais precisamente, um País de Gales) longe das luzes dos grandes centros urbanos, os anos 80... E, na sua mecânica funcional, uma voz “off” sempre a comentar a acção, de uma maneira que se tornou algo tradicional e faz lembrar, por exemplo, os filmes que se extrairam dos romances de Nick Hornby (e para resumir “Submarino” numa fórmula mais ou menos rigorosa, diríamos que é “Hornby meets Adrian Mole”). Temos assim a história de um adolescente tímido, relativamente refinado nos gostos e nas referências (pelo menos em comparação com os “hooligans” que são seus colegas no liceu), preocupado em conquistar a namorada, primeiro, e não a deixar fugir, depois, enquanto tenta manter sob controlo o casamento dos pais, ameaçado pela erosão e pela “redescoberta” de uma antiga paixão da mãe (agora um “místico”, autor de livros e videos de “auto-ajuda”).
A riqueza dos pormenores, na caracterização dos décores e das personagens, quase sempre no estilo “self-deprecating” que é tão britânico, e a justeza do “casting” (o pai, deprimido e enfadado, é Noah Taylor: lembrar-se-ão dele como um dos membros do “team Zissou” no filme de Wes Anderson, e a aqui a sua profissão é a de... biólogo marinho), são as principais forças deste “Submarino”, que no essencial se limita a variar, com melancolia mas sem grande chama nem originalidade, sobre motivos e situações vistas e conhecidas. Ayoade parece gostar de Godard, visto que lhe emula o estilo dos intertítulos (letras azuis e vermelhas, com súbitas erupções musicais), e o filme acaba frente ao mar, como o “Pierrot le Fou” ou o “Mépris”. E o final é também o momento em que este filme, sempre tão palavroso e sobre-comentado, finalmente se cala e troca as palavras pelo silêncio, ainda bem a tempo da vaga redenção de que, chegado aí, estava a necessitar.