Aeroporto de Beja teve 798 passageiros em quatro meses

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Primeiro voo, proveniente de Londres, aconteceu a 22 de Maio deste ano Pedro Cunha/Público

Os números ficam a anos-luz das previsões que constavam no documento Orientações Estratégicas para o Sistema Aeroportuário Português (OESAP), que propunha o "gradual" desenvolvimento do aeroporto de Beja. Nesse documento, de 2006, previa-se que, em 2015, o aeroporto de Beja poderia receber um milhão de passageiros. O que significa que só uma mudança radical no futuro poderia dar sentido a essas previsões do Governo PS de José Sócrates.

Dos 1079 lugares disponibilizados nos aviões Embraer 45 que ligaram Londres a Beja, nestes primeiros quatro meses e 18 dias, ficaram vazios 658 lugares. Para justificar uma tão baixa procura, Rui Oliveira, das Relações Públicas da ANA - Aeroportos de Portugal - que detém a concessão do aeroporto de Beja -, refere que o Alentejo "é um destino de baixa notoriedade turística internacional". Por outro lado, a região "tem uma oferta hoteleira de reduzida dimensão e diversidade" e, perante estas condicionantes, os operadores turísticos e companhias aéreas "evidenciam uma reconhecida aversão ao risco".

Rui Oliveira confessa que "não foi tarefa fácil" convencer o operador turístico inglês a avançar com a operação charter, e que foi "bastante complicado" convencer outros a comprar lugares nesta operação.

Outro factor determinante é a inexistência de praias e a distância até à costa. "Isto significa que os "transferes" para a costa vicentina são onerosos", condicionalismo que a concretização do IP8, que está em construção, pode vir a atenuar. Por agora, as distâncias e os tempos de deslocação dos "transferes" são grandes, o que os torna caros, salienta Rui Oliveira, reforçando os pontos negativos com o facto de não existir uma cidade costeira alentejana onde o programa turístico se possa concentrar, além de a região do Alentejo ser "bastante quente" no Verão.

Mesmo assim, a "qualidade turística percepcionada foi alta", segundo um inquérito realizado aos turistas que usaram aquela rota, frisa Rui Oliveira.

Mesmo assim "valeu a pena"

Nos próximos tempos, está assegurada a participação de outro operador turístico, o Grupo Vila Vita/Herdade dos Grous, com quem a ANA assinou em Abril um memorando de entendimento para uma série de oito voos entre Outubro e Novembro, com partida em Estugarda, na Alemanha. A nova operação charter estará a cargo das companhias aéreas Air Berlin e Adria Airways com equipamentos Boeing 737-700, Airbus 319 e Airbus 320, com uma ocupação média por voo de cerca de 150 passageiros. No total, poderão vir até Beja, cerca de 1200 passageiros, se os voos vierem completos.

José Queiroz, presidente da Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja (EDAB), entidade responsável pela construção da nova unidade aeroportuária e que já tem a sua extinção anunciada até ao final do ano, disse ao PÚBLICO que, apesar das reservas colocadas pelos operadores turísticos, "valeu a pena ter sido construída a infra-estrutura", lembrando que o seu custo de financiamento, cerca de 33 milhões, "foi basicamente suportado pela União Europeia".

Referindo-se à fraca afluência de passageiros a Beja, José Queiroz justificou-a com os efeitos da crise internacional, uma situação que ninguém anteviu quando foi elaborado o projecto aeroportuário.

Megaprojectos turísticos ficaram pelo caminho

Longe vão os tempos em que se falava da possibilidade de o Alentejo poder receber 300 mil turistas, conforme descrevia um estudo de mercado realizado na Alemanha e na Inglaterra para o período 2008/2027. Sem esta "revolução" demográfica, o aeroporto de Beja está condenado à manutenção de aeronaves ou a ser um parque de estacionamento ou de desmantelamento de aviões, uma proposta já avançada pela ANA.

O presidente da EDAB sustenta que a crise económica conduziu à suspensão dos megaprojectos turísticos com que o Governo contava para atrair o mercado. Porém, "neste momento há um atraso enorme" e as consequências fazem-se sentir na viabilização do aeroporto, que custou 33 milhões de euros.

Ao todo, seriam 26 projectos privados (ver lista), num investimento total de 6238 milhões de euros, que criariam 65.000 e 75.000 camas e 25.000 a 35.000 postos de trabalho. O problema é que ficaram pelo caminho, com excepção de dois - o Parque Alqueva (em desenvolvimento há cerca de seis meses) e o Tróia Resort.

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