O lado oculto da Planeta Tangerina
Esboços, desenhos preliminares e experiências: eis a Planeta Tangerina como nunca a vimos.
A culpa é de Bernardo Carvalho, Yara Kono e Madalena Matoso, os ilustradores. Por causa deles, Isabel Minhós Martins, a escritora, anda angustiada. Na Planeta Tangerina, há um monte de desenhos – obras de arte? – desperdiçados (“amarrotados, pisados, rasgados”, adjectiva Isabel), pedaços de história que nunca chegaram aos livros.
A Planeta Tangerina começou por ser um atelier de design e comunicação: faziam coisas “menos duráveis”. Depois evoluiu para uma editora, corria o ano de 2006. Mas não uma coisa grande, um espaço para publicar “cinco ou seis livros por ano”.
O que o quarteto da Planeta Tangerina quer é atingir a combinação perfeita entre texto e ilustrações – “Que convivam na página sem atropelos, de forma harmoniosa”, explica Isabel Minhós Martins.
Valem pelo conjunto
A vida embrionária da Planeta Tangerina dava um livro (ou dois, três, muitos). Mas, para os ilustradores, essa vida é só “um caminho para se chegar a um fim”, explica Bernardo Carvalho: “Não são desenhos feitos para viverem sozinhos numa parede. Em princípio, fazem sentido quando estão todos juntos, com o texto e encadernados”.
Ninguém é tão crítico do trabalho dos ilustradores como os próprios ilustradores. Por isso eles rasgam, deitam fora, amarrotam – coisas que, para os restantes mortais, estariam “óptimas”. “É horrível”, brinca Isabel Minhós Martins.
Yara Kono explica: “Temos um espaço que é um arquivo de ilustrações, mas estava um bocado desorganizado”. Por isso quiseram pôr ordem na casa - e assim surgiu a exposição da galeria Dama Aflita, no Porto, que junta os “patinhos feios” da Planeta Tangerina.
Não é só para crianças
Estão nas paredes, expostos, tal e qual obras de arte. São uma ideia do que significa o trabalho de um ilustrador, uma ideia do que Madalena Matoso explica em números: “Para um livro de 32 páginas, doze duplas, faço 100 imagens”.
As vidas incompletas são um processo criativo de uma editora cheia de desenhos, mas que não é para crianças. O “universo infantil” é um ponto de partida. O de chegada nunca sabem. Depende que quem lê o livro.