“Très Très Fort” foi uma das surpresas mais inesperadas de 2009. Um grupo de músicos que se deslocava em cadeiras de rodas, a viver na rua, junto ao jardim zoológico de Kinshasa, e que fazia os seus próprios instrumentos, a partir de objectos reciclados, fez com que se olhasse o Congo sem paternalismos musicais.
A música dos Staff Benda Bilili não encaixa nos constrangimentos dos lugares-comuns aos quais muitas vezes se pretende confinar a chamada world-music, uma expressão confortável para classificar o que não é "nosso".
A beleza destas melodias acústicas, às quais não falta uma dose de humor, como em “Je T’ Aime”, assenta numa poderosa secção rítmica e nos impressionantes solos de guitarra. Mas que instrumento é este: uma guitarra apenas de uma corda, uma invenção de um músico então apenas com 17 anos.
Roger era mais um miúdo de rua até ser adoptado por Ricky, o cinquentenário guitarrista e fundador da banda.
A estas músicas o grupo de paraplégicos do Congo chama rumba, com percentagens nada despiciendas de reggae e, principalmente, de rhythm & blues.
Os Staff Benda Bilili assumem-se como porta-vozes das ruas de Kinshasa, como uma espécie de jornalistas, que narram o quotidiano da cidade em cada uma suas canções.
O regresso do grupo a Portugal, este sábado, na sala 2 da Casa da Música, é a segunda parte de um concerto adiado no Porto. Após o lançamento de “Très Très Fort”, os Staff Benda Bilili partiram para uma série de concertos, nos quais actuavam a seguir aos Konono Nº1, também eles da capital do Congo. As duas bandas partilham, de resto, a mesma editora.
Já tivemos direito aos Konono Nº1, que é, como quem diz, à primeira parte do concerto, também na Casa da Música. Teremos agora direito à segunda. Os Staff actuaram, no ano passado, em Sines.
O grupo congolês ganhou o prémio WOMEX, na categoria de artista do ano, e o prémio Songlines Music Awards 2010, na categoria de melhor grupo. O que importa, agora, é que as cadeiras de rodas do Congo vão subir ao palco.