Director do SIED admite irregularidades nas "secretas" mas critica fugas de informação para a imprensa
SIED dispensou alguns agentes durante investigação de Marques Júnior aos serviços secretos
Há irregularidades nos serviços de informações, mas quem as detecta deveria transmiti-las para o Ministério Público e não para a imprensa escrita. A assunção seguida de crítica interna terá sido feita ontem por José Casimiro Morgado, director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), durante a sua audição na Comissão de Assuntos Constitucionais.
O responsável, que foi ouvido ao longo de duas horas, terá explicado ainda aos deputados que o elemento que manipulou a chamada "lista de compras" (os registos telefónicos do jornalista Nuno Simas) saiu já do serviço por razões pessoais, mas trabalha ainda para o Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP). Contudo, o director do SIED afirmou desconhecer os motivos da solicitação desta lista. Adiantou, porém, que a investigação interna ainda não terminou e sublinhou que a origem dos problemas não está no Departamento Operacional do SIED. Esta última afirmação, aliás, foi entendida como uma crítica implícita a Marques Júnior, presidente do Conselho de Fiscalização do SIR (CFSIRP), que, na passada semana, apontou o dedo àquela secção, dizendo que somente alterações no departamento poderiam resgatar a credibilidade dos serviços secretos.
Os deputados aproveitaram a audição de Casimiro Morgado para recuperarem um dos temas centrais deste processo: as alegadas fugas de informações para a Ongoing, protagonizadas pelo antigo director do SIED, Jorge Silva Carvalho, antes e depois de abandonar aquelas funções. O actual responsável terá garantido que desde que chegou à chefia do SIED, em Dezembro último, não autorizou nem detectou qualquer transmissão de dados para a empresa de Nuno Vasconcellos. E aproveitou para se demarcar da anterior direcção, notando que, ao contrário do que tem vindo a ser veiculado na imprensa, Silva Carvalho não mantém qualquer rede dentro do SIED. No entanto, admitiu que o antigo director continua a colaborar com os serviços de informações, fornecendo dados recolhidos em fontes abertas - uma colaboração que, aliás, terá dito não compreender.
Sobre a Ongoing, Morgado terá dito que a empresa não está abrangida no sector estratégico do Estado, mas assumiu que, sob orientações da tutela (ou seja, do primeiro-ministro), essa lista pode ser alargada. O trabalho do SIED, neste âmbito, é tentar lançar essas empresas no exterior e recolher dados que facilitem a sua implantação.
Embora Marques Júnior tenha explicado, na passada semana, de que inquiriu individualmente alguns funcionários do Departamento Operacional do SIED, o PÚBLICO sabe que alguns agentes daquela secção foram dispensados temporariamente durante a investigação realizada pelo Conselho de Fiscalização.
A licença temporária de alguns funcionários, que, entretanto, já regressaram ao Forte do Alto do Duque, terá sido uma espécie de medida preventiva, uma vez que a direcção do SIED já identificou os elementos que, desde Julho, transmitiram informações para o semanário Expresso. Não estão previstos, por ora, quaisquer procedimentos disciplinares.
Para além da recomendação de que deveriam ser feitas alterações urgentes no departamento, Marques Júnior terá mesmo chegado a sugerir a demissão de alguns agentes. As sugestões, sobretudo a sua publicitação, irritaram as chefias do SIED, que entrou em ruptura com o CFSIRP. Após a audição de Marques Júnior, foram feitas reuniões em diversos departamentos do SIED para tentar "sossegar" os funcionários e transmitir a mensagem de que o primeiro-ministro reiterou a sua confiança no secretário-geral do SIRP, Júlio Pereira.