Há vários anos habituados à paisagem vazia e degradada de uma antiga estação de gasolina em Clerkenwell, os londrinos ficaram absolutamente boquiabertos quando, no Verão de 2010, ali viram nascer o Cineroleum: um cinema temporário construído com materiais usados pelos jovens arquitectos do colectivo Assemble.
Hoje, nada mais parece surpreender a cidade pois a cultura do pop-up multiplicou-se a uma velocidade vertiginosa com o trabalho de uma nova geração de arquitectos, designers e artistas plásticos, cuja capacidade de criar novos conceitos de intervenção urbanística e social parece não conhecer barreiras.
Os habitantes, as grandes instituições culturais e as diferentes freguesias (os chamados "boroughs") agradecem – e apoiam. Inseridos em equipas multidisciplinares, estes jovens cruzam a sua prática profissional com projectos experimentais de curta duração, testando conceitos curatoriais que permitem um trabalho técnico potencialmente mais livre e consciente a nível social.
De grande e de pequena escala, de maior ou menor duração, existem projectos para todos os gostos. Só neste Verão, zonas particularmente degradadas receberam de braços abertos iniciativas tais como: o novo projecto do Assemble (o Folly for a Flyover, um auditório para cinema e artes performativas construído debaixo de um viaduto em east London), o Ridley´s (um restaurante-instalação com uma forte vertente social, criado pelos The Decorators e o Atelier ChanChan no mercado de Dalston), o Frank´s Café (construído no topo do parque de estacionamento abandonado de Peckham e que acompanha a exposição anual Bold Tendencies) ou até a fábrica de fritar batatas dos arquitectos da 815 Agency, a Chip Factory, que juntou centenas de famílias na Tate Britain.
Arte gastronómica
A verdade é que nenhum deste projectos é particularmente pioneiro. Na década de 90, a geração dos YBAs explorava já o conceito pop-up em Londres – a The Shop, de Tracy Emin e Sarah Lucas, aberta durante seis meses em Bethnal Green, será o exemplo mais paradigmático.
Se recuarmos várias décadas e se sairmos do Reino Unido, encontramos também projectos semelhantes a nível artístico, nas mais diversas áreas, inclusivamente na própria relação da arte com a gastronomia – por exemplo, o Restaurant de la Galerie J (1963), de Daniel Spoerri, recriado em 2001 pela Jeu de Paume.
A originalidade destas acções e o que as torna efectivamente especiais, para além da sua impressionante velocidade de reprodução, é o facto de terem a capacidade de exprimir, com uma linguagem simples e enternecedora, preocupações com a regeneração do espaço urbano, a qualidade de vida dos habitantes e as relações humanas, no contexto de uma grande cidade. A não perder, para aprender.