Estudo europeu garante que “a China está a comprar a Europa”

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Economias periféricas da Europa já representam 30% do investimento estrangeiro da China Andrew Wong/Reuters

A crise da dívida soberana que assola o Velho Continente “está a permitir às companhias chinesas não apenas conseguirem negócios a preços reduzidos, mas também colocarem os Estados-membros uns contra os outros e contra os seus próprios interesses colectivos”, lê-se no estudo A competição pela Europa, hoje divulgado.

“Outrora um grande mas distante parceiro comercial, a China é também agora um actor poderoso dentro da Europa”, afirmam François Godement e Jonas Parello-Plesner, os autores do estudo.

Segundo os investigadores, os números comprovam a expansão da presença chinesa em solo europeu. Há cinco anos, o investimento directo total da China na Europa atingiu 1,3 mil milhões de dólares (cerca de 951 milhões de euros).

Só nos últimos dois anos, três aquisições de empresas chinesas em Espanha, Hungria e Noruega excederam, cada uma, aquele montante, sublinha o estudo do ECFR, organismo criado em 2007 e que se assume como o “o primeiro think-tank pan-europeu”.

Entre Outubro de 2010 e Março de 2011, as empresas e os bancos chineses investiram 64 mil milhões (aproximadamente 46,9 mil milhões de euros) em operações financeiras como fusões e aquisições de empresas. Este valor equivale a mais de metade do total do investimento directo da China na Europa desde 2008.

Para além dos investimentos directos em companhias, as recentes intervenções no mercado obrigacionista europeu da dívida pública, onde se impõe como um importante comprador, inclusive para Portugal, são a outra via para o aumento da influência na Europa da segunda maior economia do mundo.

A armadilha da crise da dívida

A dependência financeira da Europa em relação à China começa nos países endividados e periféricos do Mediterrâneo. “Portugal, Itália, Grécia e Espanha representam 30% do investimento da China na Europa”, enquanto a Europa Central e Oriental totalizam 10%.

Uma diferença “desproporcionalmente grande” se tivermos em conta “a dimensão global das economias” das duas regiões do Velho Continente. “De uma perspectiva europeia, pode parecer que a China está a explorar a zona vulnerável [soft underbelly] da Europa”, dizem os autores.

Esta expansão da presença Chinesa em terreno europeu ocorre no momento em que “a União Europeia começava a desenvolver uma estratégia [comercial] mais coordenada e agressiva em direcção à China”.

Porém, a necessidade de financiamento dos países europeus tem vindo sobrepor-se ao interesse comunitário. “Enquanto competem entre si para atrair o investimento chinês, os [países] europeus reduzem as suas possibilidades de negociar o acesso recíproco ao mercado chinês”, afirma o estudo.

“Os europeus não devem culpar a China por aproveitar a oportunidade de expandir a sua influência económica dentro da Europa”, nem devem “recorrer ao proteccionismo”, dizem os autores. “Devem, antes, unir-se em torno dos seus interesses colectivos”, de modo a que “as empresas europeias possam competir na China da mesma maneira que as companhias chinesas competem na Europa”, argumentam.

Assim, apesar de a influência europeia estar a criar “falhas geológicas” (fault lines) no seio do Velho Continente, a Europa “precisa e acolhe a presença chinesa”, devido à “necessidade de dinheiro a curto prazo”, concluem Godement e Parello-Plesner.

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