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Abbas vai "jogar dardos numa sala escura" ao apresentar proposta de Estado à ONU

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Manifestação ontem em West Bank, em defesa do Estado palestiniano ABBAS MOMANI/afp

O presidente palestiniano diz que a sua primeira acção pós-declaração vai ser recomeçar negocia? ?ões com Israel. Seria o cenário mais positivo, se as posições não fossem irredutíveis

Os palestinianos darão, esta semana, um passo que terá consequências imprevisíveis, levando à ONU uma declaração de um Estado independente.

Há quem tenha comparado a iniciativa a "um jogo de dardos numa sala escura" (Bradley Burston, no Ha"aretz). Há quem tenha pegado em analogias meteorológicas: depois da Primavera Árabe, o Verão quente dos protestos em Israel, e agora "a nuvem a anunciar a tempestade de Setembro" (Nahum Barnea, do Yeditoh Aharonoth). Há quem veja dois comboios em rota de colisão ou um navio a naufragar.

O líder da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, anunciou na sexta-feira que vai pedir ao Conselho de Segurança a adesão à ONU de um Estado com base nas fronteiras de 1967 e Jerusalém Oriental como capital. Esta iniciativa está condenada ao fracasso, por via de um prometido veto norte-americano, e é um desafio aos EUA, curiosamente vindo de um líder em regra criticado por ceder demasiado à pressão internacional (e que já foi descrito como "um galo sem penas").

A par deste pedido, ou após o chumbo do CS, os palestinianos podem levar à Assembleia Geral uma subida do seu estatuto na ONU, da actual "entidade observadora" para "Estado observador" (como o Vaticano).

Uma coisa é certa: o que quer que aconteça na ONU, os palestinianos não vão acordar no dia a seguir e ter um Estado. A maioria dos analistas defende, no entanto, que uma aprovação num organismo das Nações Unidas de um Estado (mesmo que apenas "observador" como o Vaticano) muda o paradigma do conflito, que passa de existencial a territorial, cristalizando a solução de dois Estados. E abre aos palestinianos o acesso a várias organizações internacionais, das quais o Tribunal Penal Internacional tem sido a mais destacada, já que poderia deixar a porta aberta a processos contra Israel (ou contra os 500 mil habitantes de colonatos judaicos na Cisjordânia, ou contra os militares nos territórios).

A reacção dos EUA e Israel ao pré-aviso de uma declaração de um Estado palestiniano na ONU, quaisquer que fossem os seus moldes, foi de forte oposição. Washington embarcou numa campanha de pressão diplomática sobre os aliados para um voto contra no Conselho de Segurança, para não ficar sozinho num veto, e na Assembleia Geral, para que Israel possa apontar para uma "minoria moral" de Estados que não aprovaram a Palestina.

Retaliações

O Congresso dos EUA ameaçou cortar 500 mil dólares de ajuda à Autoridade Palestiniana.

O Estado hebraico evocou cenários de violência nos territórios para defender um voto contra e ameaçou também a Autoridade Palestiniana que poderia reter fundos (os impostos que Israel recolhe e que financiam a AP) ou anexar os colonatos da Cisjordânia.

A fluidez da situação torna as consequências imprevisíveis - ainda mais quando os recentes acontecimentos na Tunísia, Egipto e Líbia mostraram quão falíveis podem ser prognósticos.

Mas a chave parece estar no que vai acontecer nos dias, semanas ou meses seguintes à votação. Vários cenários têm sido previstos para o "dia seguinte": Abbas quer manifestações pacíficas em grandes cidades da Cisjordânia, para evitar a violência evocada por Israel. Mas as manifestações podem tornar-se violentas. E há ainda outros pontos de possível volatilidade: há Gaza, há os árabes israelitas, há os palestinianos na diáspora.

Um dos cenários que provocaria mais instabilidade seria a concretização da ameaça israelita para a transferência das receitas de impostos que recolhe em nome da AP. "Não se pode parar de pagar às forças da segurança da AP que vão ser quem vai restringir os manifestantes [na Cisjordânia]", afirmou Nahum Barnea, um dos mais importantes colunistas políticos israelitas.

Mahmoud Abbas diz que a sua primeira acção vai ser recomeçar negociações. Esse seria o cenário mais positivo: que os dardos da sala escura não acertem em ninguém, que a nuvem passe sem tempestade, que o comboio não descarrile, que o navio não naufrague e que conversações progridam. Mas actualmente é consensual que Abbas e Netanyahu estão de tal modo entrincheirados nas suas exigências que um avanço será impossível. Robert Malley, director para o Médio Oriente do International Crisis Group e antigo conselheiro de Bill Clinton, é pessimista: "Ainda continua a ser preciso encontrar um meio para avançar."

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