Sentença de dez anos de prisão para Otegi gera surpresa e indignação no País Basco
O ex-porta-voz do Batasuna foi condenado por pertencer à ETA. Muitos na sociedade basca consideram que foi dado "um passo atrás"
A sentença de dez anos de prisão contra Arnaldo Otegi, ex-porta-voz do Batasuna, considerado o braço político da ETA, provocou desconcerto nos meios políticos do País Basco. A sentença ontem divulgada pela Audiência Nacional, o tribunal que em Espanha julga os processos de terrorismo, considera que Otegi e Rafael Diez Usabiaga, antigo dirigente da central sindical nacionalista LAB, também condenado a uma década de prisão, pertenciam à ETA, de quem receberam ordens para continuar a utilizar a denominada "esquerda abertzale" - nacionalista radical -, como seu braço político.
"Estou consciente de que esta sentença pode ter gerado surpresa e inclusivamente frustração em alguns sectores da sociedade basca", admitiu, ontem, o presidente do Governo basco, o socialista Patxi López. "Compreendo que quando a imensa maioria da sociedade basca pensa que estamos a fechar um ciclo de terrorismo e de violência, alguns não compreendam esta situação", disse López, referindo-se à sentença. Também o Partido Nacionalista Basco (PNV), a principal força de oposição ao executivo regional de Vitória, considerou a sentença "um passo atrás" e um "absurdo jurídico-político". Em comunicado, divulgado horas depois de ser conhecida a decisão da Audiência Nacional, o PNV assegura ser "imprescindível abrir um novo tempo em Euskadi no qual a "esquerda abertzale" seja também protagonista dos espaços políticos e institucionais". Já a Bildu, a coligação cuja força motriz é a esquerda herdeira do Batasuna, anunciou ontem que vai apelar "à mobilização social". "Sinto surpresa e indignação", comentou Martin Garitano, deputado-geral de Guipuzcoa, eleito nas listas da Bildu nas passadas eleições municipais de 22 de Maio. "A ETA caracteriza-se por usar a violência para fins políticos, e os condenados recusaram claramente a violência", recordou a associação Lokarri, lembrando que num dos seus julgamentos Arnaldo Otegi afirmou "que a ETA estorva".
Na sentença de 144 páginas, os juízes da Audiência Nacional consideram válidos os indícios da investigação policial. De dez reuniões na sede do sindicato LAB, as viagens a França para contactos com a ETA, e documentos da organização terrorista que ordenava à "esquerda abertzale" realizar acções políticas. O tribunal assinala a coincidência de terminologia e que Otegi e Usabiaga nunca pediram a dissolução da ETA. Por fim, anota a inexistência de crítica aquando da celebração de atentados. Para além do ex-porta-voz de Batasuna e do antigo sindicalista, foram também condenados a oito anos de prisão Miren Zabaleta, Patxi Zabaleta, Arkaitz Rodriguez e Sonia Jacinto.
"Que ninguém abandone este caminho porque vamos ganhar" foi a mensagem de Arnaldo Otegi, colocada no Twitter a partir da prisão de Logroño. "Com esta sentença querem minar a esperança da sociedade basca", disse. Apesar de a defesa ir recorrer para o Supremo Tribunal, a condenação a dez anos frustra os planos de alguns sectores que queriam que Otegi fosse candidato à presidência do Governo basco nas próximas eleições regionais.