Um dos rostos do vinho português começou na Alemanha

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miguel manso

Fazia sentido trabalhar fora de Portugal. E, a juntar-se a esta motivação, havia ainda um lado pessoal - o facto de o namorado da altura se ter mudado para a Alemanha. Foi esse, aliás, o factor que mais pesou na escolha, assume. Isto apesar de não dominar o idioma. "Não sabia dizer nada em alemão. Só comecei a falar mais fluentemente depois de cinco anos no país", conta Dora Simões, que começou pela publicidade e se tornou numa das mulheres mais influentes no negócio dos vinhos em Portugal.

Tinha acabado a universidade, em Inglaterra, e precisava de um rumo. Começou pelas agências publicitárias, aos 25 anos. Primeiro, na Marsh & Partners, em Hamburgo, de onde sai, volvidos dois anos, para aceitar um convite que encaixou na perfeição no seu perfil.

A BW Advertising queria alguém para trabalhar contas internacionais, o que não a aprisionaria numa língua que ainda não dominava. Aceitou a proposta e, aos 27 anos, já geria clientes como a multinacional Minolta e o Turismo da Bélgica. Até que, em 1988, a agência entrou numa fase difícil e decidiu abdicar de alguns trabalhadores.

"O trabalho estava correr bem, tinha até sido promovida recentemente. Quando recebi a notícia, percebi que estava na lista de despedimentos", conta. O problema desfez-se, de repente, quando uma das empresas com que trabalhava, uma produtora de vinhos californiana, a convidou a fazer parte da equipa. "Queriam abrir um departamento de marketing na Europa Central, em Frankfurt. Fiquei muito feliz porque era um dos meus clientes favoritos e porque foi uma grande coincidência. Não fazia ideia do que se estava a passar na agência", recorda.

Apesar da mudança de trabalho, permaneceu na Alemanha seis anos, três deles ao serviço da Ernest & Julio Gallo - onde recolheu "ensinamentos para a vida". Dora Simões já tinha contactado e visitado diferentes partes do mundo mas, quando entrou na produtora de vinhos, "começou a trabalhar sete ou oito mercados", o que a obrigava a "entender formas diferentes de negócio, a viver num ambiente multicultural", que a tornou "mais tolerante".

Tinha 31 anos quando decidiu regressar a Portugal. "Senti que estava a perder as ligações ao país e pareceu-me uma boa altura para voltar." Mas, já fluente em alemão, teve outro problema: tinha dificuldades em falar português, nomeadamente quando precisava de usar termos mais técnicos.

Já experimentada no mundo dos vinhos, foi convidada para representar a ViniPortugal, uma associação que promove os vinhos portugueses, no âmbito do Estudo Porter - que definia as estratégias a seguir pelo sector vitivinícola nacional com base nas ideias de um consagrado consultor na área do marketing e da gestão de empresas, Michael Porter.

Acabou por subir a directora-geral do organismo, onde esteve até Setembro de 2008. Nessa altura, aceitou um novo desafio: ser presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, onde começou por "criar uma estrutura e equipas" e onde agora quer "avançar com projectos na área da sustentabilidade".

O mandato terminou no início de Agosto, mas Dora Simões pretende candidatar-se nas próximas eleições. Diz que "já é difícil sair deste sector" porque lhe deu uma carreira e a envolveu. Hoje tem 40 anos e, na semana passada, nasceu o seu primeiro filho.

raquel.correia@publico.pt

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