A arte de rua de Banksy está à venda numa galeria

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Mural alusivo ao conflito israelo-palestiniano da autoria de Banksy Foto: Ammar Awad/Reuters

A identidade de Banksy continua a ser um dos segredos mais bem guardados da arte contemporânea, mas o contributo regular do multifacetado criador britânico para a arte pública tem dado nas vistas o suficiente para suscitar debate e polémica. Banksy é um pseudónimo de um artista que não dá a cara, mas também sinónimo de statements visuais e escritos contra o status quo, através do recurso a stencils, epigramas e graffiti fixados na rua, por exemplo em paredes de prédios devolutos.

A última polémica que divide admiradores de Banksy, um galerista e um comerciante de arte prende-se com o facto de o trabalho do artista ter sido removido por comerciantes de arte da rua para uma galeria. A venda decorre, desde o dia 25 de Agosto, na Keszler Gallery, em Nova Iorque, até 30 de Setembro. Em causa estão, segundo os detractores da mostra, a deslocação de uma obra pública para um espaço privado, sem a permissão do artista, e a venda das obras "Stop & Search” e “Wet Dog”.

As alusões a estes dois murais em stencil – especialmente a imagem de uma jovem envergando um vestido rosa a revistar um soldado é um clássico na obra de Banksy – abundam em capas de cadernos à venda em lojas de arte urbana, mas não são exactamente estas acções que afligem os fãs do artista de rua e alegado realizador do documentário Exit Through the Gift Shop: A Banksy Film, que viu a luz do dia em 2010.

Os stencils foram originalmente aplicados durante uma visita do artista à Palestina em 2007 nas paredes das ruas de Belém, cidade a oito quilómetros do sul de Jerusalém. No último mês, estas mesmas imagens – que viajaram da Palestina para Nova Iorque - passaram a integrar uma exposição de obras do artista, estando cada um destes trabalhos à venda pelo valor de 320 mil euros. Ao jornal Independent, o proprietário da galeria afirma acreditar que, se estas obras permanecessem na localização inicial, sem qualquer protecção, estariam em perigo de deterioração e poderiam ser alvo de vandalismo.

O anúncio da venda da obra de Banksy colocou alguns entusiastas do artista em polvorosa. Na Internet são vários os que argumentam que os trabalhos são destinados ao consumo público, não ao privado. Dizem que a street art [arte de rua] não tem valor e sentido fora do contexto original. O autor do blogue Unurth defende que “a arte de rua é feita para ser vista no seu ambiente natural, não numa galeria ou na casa de um rico qualquer. É por isso que é chamada street art”. O Artlyst - um site “de artistas criado para ajudar artistas, designers, galerias, coleccionadores e profissionais da arte” com base em Londres - dá conta de que “esta prática é moralmente inaceitável para muitos, e as galerias, os coleccionadores e as casas de leilão devem rejeitar estes trabalhos vandalizados. Isto é um crime cultural imoral que precisa de ser publicitado”.

Ao Independent, Robin Barton, comerciante de arte britânico responsável pela transferência dos trabalhos de território palestiniano para os Estados Unidos, confirma que teve acesso às obras através de dois empresários palestinianos que as retiraram dos locais originais. “Tentaram vendê-las [as obras] no eBay e a clientes privados. Como a maioria das obras públicas de Banksy, elas não são formalmente autenticadas. É muito difícil revendê-las no mercado de segunda mão, da forma que se podem vender impressões dos trabalhos dele”. Barton rejeita a acusação de aproveitamento de trabalho alheio, afirmando que investiu uma quantia significativa no transporte e na restauração das obras. “O que temos feito é cuidar dos trabalhos que já teriam sido fisicamente removidos da Palestina", defende-se Barton, que recorda ainda que a entrada na galeria é gratuita e de livre acesso.

À Artnet Magazine, a organização Pest Control [o mais próximo possível de uma representação oficial do artista anónimo britânico], garante que uma das obras em exposição foi formalmente autenticada como trabalho de Banksy e acusa a galeria de retirá-la do seu cenário original. “Alertámos o senhor Keszler [o galerista] para as implicações sérias [que poderão advir] de vender obras não autenticadas, mas ele parece não se preocupar”.

Stephen Keszler, o galerista que está a expor num espaço fechado e privado exemplos da designada “arte pública” e “arte de rua”, defende-se das críticas por trás do escudo do pragmatismo: “Num mundo perfeito, os trabalhos estariam no seu estado mais puro, quando mantidos [na lógica] site-specific, mas a dura realidade é que muito poucas peças resistem. Elas teriam sido completamente destruídas na Palestina”. Já a Pest Control afirma não ter dúvidas que “estas obras regressarão para assombrar o senhor Keszler”.

Banksy, o autor dos trabalhos artísticos que estão a gerar a polémica, não se pronunciou oficialmente sobre esta acção até ao momento.

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