Activistas pró-democracia, adultos e crianças, morrem sob tortura nas prisões da Síria

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Foto enviada à Reuters de protestos anti-Assad na cidade de REUTERS

O relatório da Amnistia Internacional denuncia uma "prática generalizada" de actos cruéis que podem configurar "crimes contra a Humanidade"

Pelo menos 88 manifestantes pró-democracia morreram nos últimos cinco meses em prisões na Síria, incluindo dez crianças, devido a actos brutais de tortura, denuncia um relatório divulgado ontem pela Amnistia Internacional.

As vítimas, todas do sexo masculino, apresentam marcas de terem sido espancadas, submetidas a queimaduras e choques eléctricos, chicoteadas e mutiladas nos órgãos genitais, sublinha a agência de direitos humanos, que teve acesso a vídeos mostrando os corpos de 45 dos presos, após terem sido entregues aos familiares ou abandonados à beira de estradas.

Entre eles está o de Hamza al-Khateeb, de 13 anos, que foi detido em finais de Abril em Deraa, uma das cidades embrionárias da revolta popular - o seu cadáver foi entregue à família com sinais evidentes de tortura, incluindo o pénis cortado, segundo foi observado por patologistas forenses consultados pela AI. Outro, o do médico Sakher Hallak, de 42 anos, oriundo de Aleppo, foi encontrado na estrada, com costelas, braços e dedos partidos, os órgãos genitais mutilados e os olhos arrancados.

A AI considera que é "muito credível" que todos estes mortos sejam pessoas que foram detidas entre Abril e meados de Agosto, durante as manifestações contra o regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad, cuja repressão dos protestos provocou a morte de umas estimadas 2200 pessoas, de acordo com as Nações Unidas.

"As mortes que ocorrem nas prisões estão a atingir proporções enormes e parecem ser uma extensão do mesmo desrespeito brutal pela vida humana a que assistimos todos os dias nas ruas da Síria", acusou o investigador da AI Neil Sammonds. "Os relatos de tortura que nos chegam são horríveis. Leva-nos a crer que o Governo sírio está a perseguir sistematicamente o seu próprio povo a uma escala maciça", insistiu.

Antes do movimento de rebelião ter surgido, a AI apontava por norma à Síria à volta de cinco mortes por ano ocorridas nas prisões. Aquele responsável da Amnistia Internacional sustentou ainda ter uma lista com os nomes de pelo menos três mil pessoas que estão actualmente detidas no país desde o eclodir dos protestos.

E essa é apenas uma pequena fracção dos 12 mil a 15 mil presos no país. "Sabemos que a tortura tem sido uma prática generalizada ao longo de muitos anos e que tem também vindo a agravar-se. A maior parte das pessoas são mantidas presas sem lhes ser permitido comunicar com ninguém", descreveu Sammonds.

O investigador defende que estes dados "dão força" ao caso para levar a Síria ao Tribunal Penal Internacional, assim como à adopção de um embargo de armas, sanções financeiras mais duras e congelamento de bens contra membros de topo do Governo de Assad. "Neste contexto de violações sistemáticas dos direitos humanos, cremos que as mortes nas prisões podem incluir crimes contra a Humanidade", sublinhou, criticando a "resposta do Conselho de Segurança [das Nações Unidas] como inadequada".

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