Eu Vi o Diabo

Para tarado, tarado e meio: a sequência mais alucinante de "Eu Vi o Diabo" (e até ficamos um bocado preocupados com a saúde mental dos coreanos, porque isto tem que exprimir alguma coisa, um mal estar qualquer) é aquela da mansão, quando o serial killer encontra o canibal, sempre sob vigilância do agente secreto herói (anti-herói) da história, e sucessivamente todos se chamam tarados uns aos outros - toda a gente é o tarado de alguém, há sempre um tarado maior atrás da porta. Nesta paisagem humana devastada, e sem ser uma obra prima, "Eu Vi o Diabo" abre uma janela com vista para questões interessantes: o lugar da dor, da dor física (e portanto, dos corpos, da carne e do osso), desaparecida do cinema ocidental de "série A" (com eventual excepção, e levada a um quase-burlesco, de Tarantino), a sua relação com o tema da vingança, e da vingança violenta e sanguinolenta (arriscamos o disparate: os ocidentais têm isto sublimado desde Shakespeare, os asiáticos, à evidência, não), e uma espécie de "mise en abime" do lugar do espectador perante o espectáculo do sofrimento alheio (como um "torture porn" mais perverso do que a série dos "Saw" e afins). Nada no filme garante que Kim Ji-Woon acerte duas vezes, mas "Eu Vi o Diabo" é, de facto, uma "experiência".

Sugerir correcção
Comentar