Nova Iorque fecha-se à chegada do furacão Irene num teste às equipas de emergência

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Na parte sul de Manhattan tomaram-se precauções contra inundações EDUARDO MUNOZ/REUTERS

Ruas desertas, lojas fechadas, aeroportos e o sistema de transportes interno foram encerrados e milhares de pessoas obrigadas a deixar a cidade. "Estamos prontos", encorajou Obama

Ficar para trás é não só "ilegal", mas também "perigoso" e "estúpido". O mayor de Nova Iorque, Michael Bloomberg, não mediu palavras no aviso aos 370 mil nova-iorquinos que receberam ordem obrigatória de evacuação antes da chegada, hoje, do furacão Irene. O primeiro embate em terra, na Carolina do Norte, foi ligeiramente mais fraco do que era esperado, mas não sem baixar os riscos para o corredor populacional de 65 milhões de pessoas pelo qual o Irene vai passar nos próximos dias.

As primeiras mortes nos Estados Unidos foram confirmadas ontem à noite pelas autoridades: três na Carolina do Norte, incluindo um homem de Nash County apanhado por "um enorme tronco de árvore" no exterior da sua casa, dois na Virgínia, em que se inclui um rapaz de 11 anos, e ainda um mais no estado da Florida. O furacão causara três mortos nas Baamas e um em Porto Rico, quando registava uma força de nível 3 na escala de Saffir-Simpson, que vai até 5, dois acima da intensidade com que agora chegou aos Estados Unidos.

"É uma tempestade que ameaça vidas", alertou Bloomberg, sublinhando "os grandes perigos", face às esperadas inundações provocadas pelas ondas enormes, aliadas às marés cheias da Lua Nova, e desabamentos de terras provocados pelas chuvas. "Não há nenhuns sinais de que esta previsão se altere", insistiu Bloomberg, ontem à tarde, em Coney Island, Brooklyn - que está com Queens e Manhattan no grupo de bairros que se estima serem mais afectados em Nova Iorque.

Estados em alerta

Desde ontem à tarde que o cenário em Nova Iorque era já deserto, sem movimentação de pessoas, quase nenhuma circulação rodoviária, as lojas fechadas. Pela primeira vez na história da cidade, foi suspensa a circulação de todo o sistema de transportes públicos (metropolitano, autocarros, comboios, ferry-boats). E todos os cinco aeroportos da região foram fechados: não aceitam nenhumas chegadas de aviões (os da TAP incluídos), e as mais de sete mil partidas do fim-de-semana foram adiadas.

"Isto vai ser obviamente uma situação muito difícil para muitas comunidades, mas saber que têm uma tão excelente equipa de reacção faz toda a diferença", sublinhou o Presidente, Barack Obama, numa reunião ontem no comando central da agência federal de gestão de situações de emergência (Fema). "Estamos prontos", encorajou.

Mais de uma dezena de estados vão ser afectados pelo furacão Irene, o primeiro a atingir terra nos Estados Unidos desde o Ike, que assolou o Texas em 2008. Da Carolina do Norte ao Maine foi declarado o estado de emergência e mais de dois milhões de pessoas receberam ordens ou recomendações para sair do caminho de Irene, cuja dimensão, de cerca de 830 quilómetros, é equivalente ao estado da Califórnia.

Por todo o país permanece bem viva a memória do furacão Katrina, que em 2005 deixou Nova Orleães debaixo de água, matou 1800 pessoas e causou acima de 80 mil milhões de dólares em prejuízos.

"O furacão de uma vida"

O "olho" do furacão chegou ontem a terra, vindo de sudeste, com o primeiro ponto de impacto perto de Cape Lookout, Carolina do Norte, pelas 7h30 locais (mais cinco horas em Lisboa). Tinha aí descido um nível de intensidade desde a véspera, para 1, mas não sem que as vagas fortes, chuvas torrenciais e ventos de 140 quilómetros por hora deixassem um rasto de inundações, cortes de energia e danos em molhes e edifícios próximos da costa.

Apesar da baixa de intensidade, Irene continua a ser descrito pelos peritos como "o furacão de uma vida". "Os riscos mantêm-se e são exactamente os mesmos, apesar de a força do furacão estar a diminuir ligeiramente no avanço em terra. A ênfase desta tempestade está na sua duração e tamanho, não tanto na velocidade dos ventos", alertou Mike Brennan, do Centro de Furacões.

São esperados tornados nas regiões costeiras com grande potencial destruidor, mesmo se passageiros. "As pessoas devem ficar em casa e afastadas das janelas e paredes exteriores", frisou Craig Fugate, da Fema.

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