Um em cada quatro alunos candidatos ao ensino superior pediu apoio social
Houve menos candidatos à 1.ª fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior - cerca de 47 mil. E, pela primeira vez, ao apresentarem a sua candidatura online, os que aspiram a ocupar um lugar numa universidade ou instituto politécnico público puderam também concorrer a uma bolsa de estudo. Resultado: 25 por cento pediram apoio social.
O Ministério da Educação e do Ensino Superior faz saber que não é possível estabelecer comparações com 2010 de forma a perceber se houve mais gente a concorrer a uma bolsa nesta fase do processo. Por uma razão: "No ano passado, os alunos candidatavam-se directamente nas universidades, após as colocações." Agora fazem-no logo na candidatura.
Certo é que 11.766 candidatos a caloiros que pretendem ser apoiados juntam-se aos 45.582 alunos que já frequentaram o ensino superior no ano passado e que, em Julho, cumpridos os prazos definidos pela tutela, pediram a renovação da bolsa. Na altura, ouviram-se críticas: muitos estudantes bolseiros desconheceriam que tinham que o fazer naquela data e por isso não teriam reclamado novo apoio, afirmou o administrador dos Serviços de Acção Social da Universidade do Minho, Carlos Silva. Os dados divulgados então mostravam que um terço dos bolseiros não tinha pedido renovação de apoio.
As regras em vigor - que o ministro Nuno Crato já fez saber que pretende mudar - estabelecem que têm direito a bolsa os estudantes economicamente carenciados ou portadores de deficiência e com aproveitamento escolar.
Más notas ou crise?Os dados da 1.ª fase do concurso nacional de acesso ao superior foram conhecidos ontem - o prazo de candidaturas decorreu entre 21 de Julho e 17 de Agosto. E mostram que o número de candidatos não era tão baixo desde 2006 (quando se candidataram 40.500 estudantes). Em 2009, tinham sido 52.900 e, no ano passado, 52.183. Este ano, são 46.678 - ainda que este valor possa sofrer ligeiras oscilações, depois de conhecidos os resultados da reapreciações de exames nacionais do secundário, que também servem de provas de ingresso nas universidades e politécnicos.
A que se deve esta descida? O ministério não fez comentários. Mas uma das possibilidades apontadas por Helena Pereira, vice-reitora da Universidade Técnica de Lisboa, passa pelas más notas dos exames de algumas disciplinas. A média nacional do exame de Português, por exemplo, foi, na 1.ª fase das provas nacionais, a pior registada em 14 anos. E Matemática também baixou, em relação ao ano passado. Resultado: mais alunos poderão ter tentado uma melhoria de nota, na 2.ª fase dos exames. O que impossibilita a candidatura na 1.ª fase do concurso para o ensino superior.
Mas outros factores podem estar a desmobilizar os jovens. Luís Rebelo, presidente da Federação Académica do Porto, diz que fora dos grandes centros urbanos há um maior desconhecimento sobre os sistemas de apoio aos estudantes. E que pode haver alguns pais sem possibilidades económicas para suportar os estudos dos filhos.
Também a vice-reitora para os assuntos da educação e da formação da Universidade do Porto, Maria de Lurdes Correia Fernandes, considera que a crise que o país atravessa e algum desencanto associado à imagem de que uma licenciatura não garante um emprego na área para a qual se esteve a estudar, no mínimo, três anos podem ser razões para o decréscimo do número de candidaturas.
No dia 19 de Setembro, ficar-se-á a saber quem, dos que agora se candidataram, ficou colocado. E, a partir dessa data até ao dia 30 de Setembro, os alunos poderão candidatar-se à 2.ª fase.